Três semanas após uma pane que assustou pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sul, em Palmas, o desabastecimento de oxigênio causou pânico na UPA Norte na noite desta quinta-feira, 24. 

Relatos à reportagem informam uma situação de emergência no local que resultou na remoção de 12 pacientes infectados com Covid-19 para outras unidades. 
Um profissional de saúde disse ao JTo que o “sistema de oxigênio já alertava desde início da tarde que acabando, a noite acabou e precisaram correr com esses pacientes para outra unidade”.  

A filha de um paciente que estava internado na UPA norte diz que o pai conseguiu ser transferido à tarde e, antes da remoção, presenciou corre-corre por conta do ar.  "Ontem a tarde eu desconfiei se deu também, porque um cara saiu correndo lá pro oxigênio, não sei se era pane" disse. "Meu pai estava usando 4 litros de oxigênio, depois que uma pessoa morreu ao lado dele, ele foi pra 12 litros. Lá é o caos. Não tem psicólogo, não tem pneumologista, não tem exames. Meu pai não sabe até hoje, 9 dias, quanto por cento do seu pulmão está comprometido".

 

Dois dos pacientes ficaram em estado grave deles em casos graves e precisaram ser removidos para um leito de UTI do Hospital Geral de Palmas (HGP) e outro para um leito de UTI do Hospital Dom Orione, em Araguaína, a 400 km de Palmas. Ou outros dez pacientes estão internados em leitos clínicos do Hospital Estadual de Combate a Covid, na capital. Não houve confirmação de nenhuma morte durante a transferência.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmou que regulou os 12 pacientes “em razão da extrema urgência ocorrida na UPA de Palmas – falta de oxigênio – nesta quarta-feira, 24”.  O órgão não informou o quadro dos pacientes, conforme a reportagem solicitou. 

A segunda pane

Esta é a segunda pane por falta de oxigênio na rede municipal, que enfrenta dificuldades no abastecimento de oxigênio, primeiro na (UPA) SUL, que conta com 16 leitos clínicos exclusivos para pacientes com Covid-19. , e a do norte com 34. 

Pela demanda por leitos clínicos em razão da alta nas internações, a Prefeitura afirma que as UPAs deixaram de funcionar apenas para a estabilização dos pacientes e realizam até mesmo a intubação de pacientes graves, e os mantém em suas dependências até sua transferência para outras unidades. 

As duas UPAs possuem usinas próprias com capacidade mensal de 5 mil metros cúbicos de oxigênio, mas a UPA Sul sofreu uma pane na noite do dia 6 deste mês, com a baixa pressão de oxigênio. Também precisou remover pacientes às pressas.

O médico Volnei Pereira Aires Pimenta foi chamado ao plantão naquela noite, para auxiliar a equipe plantonista e ao diagnosticar dois com necessidade de intubação soube que a usina não suportaria mais um ponto de ar. 

“A única saída foi levar três pacientes para UPA Norte, mais graves, para serem intubados lá, porque precisavam de oxigênio, e trazer dois pacientes menos graves que não precisavam de intubação, para a UPA SUL”.

“Não adiantava intubá-los ali porque teria grande prejuízo, inclusive chegar a óbito por baixa pressão”, disse.

Morte do jornalista

No dia 12 de março, seis dias a pane na UPA Sul, o jornalista Nilo Alves, 63, morreu na unidade Sul. O prontuário médico registra que desde as 7h30 da manhã naquele dia a UPA Sul não tinha oxigênio suficiente para atender a todos os pacientes internados. 

O profissional que assina o prontuário fez o registro às 11h30 e anotou que ainda não havia registrado Boletim de Ocorrência sobre a insuficiência de oxigênio. O paciente morreu às 10h56, antes de ser transferido para UTI. O Ministério Público investiga o caso, após pedidos dos vereadores da capital.

Município nega mortes

Em nota à imprensa, a Secretaria Municipal da Saúde (Semus) defende que “não houve falta de oxigênio” na UPA norte, mas, por uma sobrecarga de pacientes, precisou transferir parte dos usuários. Também afirma que não houve registro de morte na UPA Norte ou de paciente em trânsito.

De acordo com a Semus a transferência durante a madrugada ocorreu “para evitar a sobrecarga que pode ocasionar a falta de oxigênio”. Segundo o texto, apenas “pacientes com quadros mais leves e que precisam de leitos, foram transferidos para o Hospital de Campanha e HGP, enquanto a UPA Norte manteve os pacientes graves e moderados em seus leitos.”

“A Semus pactuou, com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-TO), a disponibilização prévia de leitos no Hospital Estadual de Combate à Covid-19 e no Hospital Geral de Palmas (HGP) para receber pacientes com quadros leves da doença, em caso de sobrecarga nas UPAs, para não comprometer o atendimento. As movimentações de pacientes na data de ontem, 24, ocorreram dentro da normalidade e com total assistência aos transferidos”, diz o texto.