"A Nô foi embora". Assim uma das cuidadoras de Leonor Carrato, a Nô, 100 anos, dirigiu-se para Leila Anacleto, 80 anos, sobrinha da centenária  por volta das 17h30 desta segunda-feira, 11 de maio.  Leila hospedava em Andradas (MG) a tia resgatada lúcida em abril desse ano, em Colinas do Tocantins, após meia década de clandestinidade e na hora pensou que a notícia era outra. "Eu achei que ela havia saído de casa, demorei a acreditar que ela tinha morrido”, confirma Leila, por telefone, ainda incrédula. 
 
A morte ocorreu 14 dias após Leonor Carrato ter chegado  em Minas Gerais, depois de ter sido resgatada pela família da qual se separou em 1967, para fugir da ditadura, após passar meio século sem contato com nenhum parente.  A história está registrada pelo JTO em duas reportagens especiais, sobre a revelação de Nô e como viveu no Tocantins.
 
Em Colinas, vivia como Maria Lidia e só revelou a verdadeira identidade após uma tentativa de roubo na casa dela, no dia 26 de março de 2020, quando sofreu bastante agressões dos malfeitores, e buscou ajuda policial. Durante a investigação,reve lou o nome de batismo para os agentes da Polícia Civil Maria Bethânia Valadão e José Luiz Júnior que localizaram a família dela em Minas Gerais. A produtora cultural Luciene Anacleto, 53,  viajou até Colinas e a transportou Nô, como é conhecida desde a infância, para Andradas (MG), onde chegou no dia 27 de abril.
 
Irmã de Luciene, filha de Telezila Anacleto, a irmã mais velha de Nô, Leila conta que a idosa estava bastante debilitada desde a última sexta-feira, quando teve diagnosticada uma pneumonia. Passou a semana tomando a medicação receitada pelos médicos, segundo Leila, havia deixado de comer e estava fraca, mas voltou a se alimentar justamente nessa segunda-feira. "Ela comeu normal hoje e até jantou. E aí falou para as meninas (cuidadoras) agora vocês saem que eu vou dar uma descansada. Quando a cuidadora que tomava conta dela durante o dia voltou, ela havia falecido. Eu acho que ela veio para morrer no seio da família", afirma.
 
Nô será sepultada em Adradas, nessa terça-feira, 12. Não haverá velório em razão da pandemia. A mesma pandemia que impediu que Nô revisse parte da extensa família que mora em São Paulo. Um deles é o irmão João, de 99 anos, único dos 10 filhos ainda vivo de dona Maria Rodrigues.
 
O município de Andradas (MG), que fica na divisa com o Estado de São Paulo, é o único entre as cidades mineiras com mais de 40 mil habitantes que ainda não registrou nenhum caso de Covid-19. Consta em seu atestado insuficiência renal como causa de morte.