Ser laureado com o Prêmio Nobel de Literatura é uma honraria que todo escritor sonha para o conjunto de suas obras. Criado em 1901, o Nobel de Literatura dá visibilidade mundial para os livros dos autores que passam a integrar um seleto grupo de escritores reconhecidos, em vida, pela excelência de seus trabalhos literários.

Autores como o francês Marcel Proust, os russos Leon Tolstói e Fiódor Dostoievski, o espanhol Miguel de Cervantes e o brasileiro Machado de Assis  poderiam ter sido laureados com essa honraria concebida a escritores vivos.

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Se avaliarmos os autores ganhadores do Nobel perceberemos uma verdade que parece inconteste: inúmeros escritores de primeiríssima grandeza morreram sem ter seus trabalhos reconhecidos pela academia sueca que escolhe os premiados.

A crítica especializada atribui essa anomalia a fatores políticos, alegando que a academia tende a premiar escritores com tendências esquerdistas em detrimento de autores identificados com o ideário direitista.

Aqui, na América Latina, temos dois exemplos de autores injustiçados pela academia sueca e uma premiação tardia atribuída a um autor simpatizante com o ideário da direitista. Nesse sentido, causou muita estranheza escritores da importância do norte-americano Philip Roth, autor de clássicos como “Pastoral Americana”, ter sido ignorado, bem como gerou perplexidade a escolha do estadunidense Bob Dylan, reconhecido como cantor, mas completamente sem obras literárias com peso suficiente para integrar o grupo seleto de escritores laureados com um Nobel.

Aqui, na América Latina, o fator ideológico mostra-se mais evidente quando o assunto relaciona-se à ideologia dos autores. A mais gritante injustiça é a do grande escritor argentino Jorge Luís Borges, ferrenho crítico do peronismo, que é considerado, por críticos como o saudoso professor de Yale Harold Bloom, como o mais universal dos escritores latino-americanos.

O colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, ambos laureados com o Nobel, são bons exemplos de uma premiação tardia. Explico. Ante as pressões internacionais, o comitê sueco reconheceu o valor literário do conjunto das obras de Mario Vargas Llosa. Reparou-se, assim, uma grande injustiça contra o autor de "A Guerra do Fim do Mundo". Vargas Llosa é o único exemplo que conheço cujo conteúdo das obras de excepcional qualidade se impôs aos critérios políticos, que, sempre, distorcem o mérito de escolha de um Nobel. Nesse caso, o mérito impôs-se à ideologia.

Ainda com relação aos escritores latino-americanos, não consigo entender como um escritor mexicano (nascido no Panamá) Carlos Fuentes, mais identificado com as esquerdas, não foi reconhecido em vida pela inegável qualidade de seus escritos. Livros como a 'Legião mais transparente' estão entre as maiores preciosidades produzidas por autores com raízes na América Latina.

Não sou daqueles que julga um autor pela visibilidade que um prêmio como o Nobel acrescenta à carreira literária. Autores como Shakespeare, Miguel de Cervantes, Marcel Proust, Machado de Assis e Jorge Luís Borges têm cadeira cativa no panteão dos grandes escritores. A obra deles é maior que o próprio Nobel; Aqui, no Brasil, Guimarães Rosa e Machado de Assis construíram obras imunes à perenidade do tempo. Sendo assim, o Nobel é uma condição necessária, mas não suficiente para canonizar obras literárias de escritores candidatos à imortalidade.

O que torna um autor respeitado por todos se atrela à capacidade que possuem os livros dele de se tornarem clássicos, que, vez por outra, precisamos revisitar. Ganhar o Prêmio traz os holofotes para a obra escolhida naquele momento. O que de fato importa, todavia, é saber se essa obra resistirá às areias do tempo.

Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, Mestre em Energia pela Unicamp, é autor de oito livros relacionados às áreas de energia, economia, política e desenvolvimento regional.

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