Palmas, quinta-feira, 23 de janeiro de 2020, Vanusa Rodrigues Camelo, 47 anos, prepara uma feijoada para a família se despedir de Ana Vitória, 16, filha caçula dela com o empresário Elvisley Costa de Lima, 54. A jovem estava com viagem marcada para o Canadá, no dia seguinte, para um período de intercâmbio. O dia se passa nos ajustes dos preparativos para a viagem.  

Manhã chuvosa de sexta-feira, 24 de janeiro de 2020. Logo cedo, Vanusa se levanta para preparar o café da família. Já na mesa e com o celular no viva-voz, Elvisley liga para o empresário Bruno Teixeira da Cunha, 37 anos. Sem que Elvisley diga nada o empresário responde: já já eu te retorno e desliga o telefone. Vanusa e o marido seguem conversando sobre a viagem da filha e como será o processo de adaptação dela no novo país. Os dois chegam a falar sobre uma possível ida ao Canadá em abril de 2020 para o aniversário da jovem. Elvisley comenta com Vanusa que naquela manhã encontraria com Bruno para receber um dinheiro.

Pouco tempo depois da primeira ligação, Bruno retorna para Elvisley que atende a chamada no viva-voz.  Bruno diz: Patrão, ta tudo certo, pode vir. Elvisley pergunta o local que Bruno se referia e ele diz: aqui na Colombo. Mais uma vez, Elvisley indaga e pergunta a qual das panificadoras Bruno se referia. O interlocutor diz: a Colombo da Palmas Brasil.

Elvisley pergunta quanto tempo até que os dois se encontrassem no local e Bruno afirma que já está no local e que ele já poderia ir ao seu encontro. Vanusa testemunha a conversa e logo após o marido desligar o telefone, diz a ele que naquela manhã levaria Ana Vitória ao salão de beleza. Elvisley então diz que ligaria para ela quando terminasse o encontro com Bruno.

Minutos depois, a ligação que Vanusa recebe não é de Elvisley, mas que ele estava morto dentro da própria caminhonete, em um bolsão do estacionamento em frente à Colombo, na Avenida Palmas Brasil. Após saber da notícia, Vanusa conta à filha e deixa o salão para ir até o local do crime.

Ligação e áudio para Bruno após o crime

Para Vanusa, apenas três pessoas sabiam do encontro que resultou na morte do seu marido: ela, Elvisley e Bruno. Já dentro do carro e com a filha em prantos, Vanusa então manda um áudio para Bruno pelo WhatsApp. O JTo teve acesso ao arquivo, com 1 minutos e 04 segundos de duração, que ela guarda um ano após a morte.

“Bruno você mandou matar meu marido, eu escutei na hora. Vai me matar também? Você também vai me matar? Eu vou ter que fazer o quê? Põe a mão no seu coração. É por conta de dívida, quantas vezes meu marido deu o carro da minha filha, deu o carro dele para te cobrir as dívidas. Você interrompeu o sonho de uma filha que tava embarcando hoje para o Canadá. Por que você fez isso? Você tirou um pai de família trabalhador, Bruno. Nós somos pessoas de bem, cara, você na minha casa sempre foi bem tratado. Você tirou um pai de família e onde eu não tenho estrutura nenhuma. Só para fugir de conta.”, diz, em trecho da gravação.

Já no local, Vanusa tenta ir até o carro do marido, mas é impedida por policiais que orientam que o contato com a cena do crime pode atrapalhar as investigações. Ainda abalada com a situação, ouve de curiosos a pergunta de quem teria cometido o crime e responde ter sido Bruno. Alguém pergunta que Bruno, e ela é enfática: Bruno da PRO2 [empresa de estrutura de eventos que pertenceu a Bruno Teixeira].

Até aquele momento ela revela que não sabia que Bruno estaria dentro do carro com Elvisley e muito menos que o suspeito de matar seu marido era Gilberto de Carvalho Limoeiro Parente, o Júnior da Serra.

O caso após um ano

No último dia 24 de janeiro, a morte de Elvisley completou um ano e esses detalhes foram revelados por Vanusa em entrevista ao Jornal do Tocantins. Ela contou também como conheceu o marido e a relação dele com Bruno Teixeira Cunha, uma pessoa, segundo ela, do convívio de sua família. Pela intimidade, o empresário chegou inclusive a participar das festas de aniversários das filhas do casal.

Bruno e Júnior da Serra são réus no caso, mas apenas o suspeito de atirar está preso. De acordo com a denúncia acolhida pela justiça, Bruno Cunha pagou antecipadamente R$ 25 mil para que Júnior da Serra matasse Elvisley. O empresário também se incumbiu de levar a vítima até o local da execução e distraí-lo enquanto Serra se aproximou do carro, pelo lado da vítima, e efetuou os disparos.

Na denúncia assinada pelo promotor de Justiça André Varanda, o homicídio é qualificado como motivo torpe e por dificultar a defesa da vítima. O juiz Marcelo Eliseu Rostirolla assina a decisão de recebimento da denúncia.

É dele também o despacho que marca para a primeira audiência do caso para a próxima segunda-feira, 22. Rostirolla também decidiu que Bruno Cunha será julgado separado do acusado de ser o atirador. O magistrado separou a ação porque a Justiça sequer citou Bruno Cunha, que está em liberdade. O juiz afirma ainda que o réu Bruno Cunha, além de não ter sido citado, há um mandado de prisão contra ele, em outro processo sobre o mesmo caso, que também aguarda cumprimento.

A audiência virtual da 1ª Vara Criminal de Palmas será às 14h30. Júnior da Serra, disse, em sua defesa prévia, que é inocente, mas se resguarda no direito de só se manifestar no final do processo. Além disso, conta que vai esclarecer os fatos em momento oportuno.  Quando o denunciou, o promotor Varanda afirmou que Júnior da Serra ao ser preso em cumprimento de um mandado de prisão, confessou, em parte, a autoria do crime. Ele está preso em no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia e indicou como testemunhas a seu favor: João Batista Moura; Mauro Adriano; Soraia Cordeiro; Neilza Parente; Cosmo Parente; Gilton Ayres e Emerson Sepúlveda.

Na audiência do dia 22 serão ouvidas, por videoconferência, as seguintes testemunhas de acusação: Vanusa Rodrigues Camelo; Fabiano Rodrigues dos Santo; Bóris Akio Ailveira Yoshio; Joseldo Souza Rangel e Marlem Pereira dos Santo.

Vanusa conta a relação com Bruno

Bruno Teixeira tem negado participação no crime, mas é considerado foragido pela Justiça. “Entretanto, as provas coligidas aos Autos de Inquérito (Laudos Periciais, imagens, quebras de dados telefônicos, etc.), indicam a coautoria de sua parte”, acusa o promotor.

Em novembro do ano passado, Bruno disse através de petição que não residia mais em Palmas há algum tempo e que seu novo endereço era numa esquina do Setor Marista, em Goiânia (GO). Isso ocorreu após um oficial de justiça certificar ter comparecido ao endereço dele em Palmas e uma funcionária avisar não existir nenhum morador com o nome dele no condomínio. Com isso, ele jamais recebeu intimação de que fora denunciado e se tornou réu por essa acusação ministerial.

Considerado da família, a relação de Bruno e Elvisley não só terminaria de forma trágica como não começou bem, lembra Vanusa, filha de Izambert Camelo Rocha, ex-prefeito de Natividade, cidade onde ela e Elvisley se conheceram em 1999. Os dois tiveram duas filhas, a caçula Ana Vitória e Natália, 19. Elvisley nasceu em Buriti Alegre (GO), mas tem registro de nascimento em Goiatuba (GO). 

De acordo com ela, Bruno e Elvisley se conheceram no leilão que era organizado pelo marido. Vanusa não lembra a data correta, mas seria após 2010, ano em que a empresa se estabeleceu em Palmas.  

“Eu sei que ele conheceu o Bruno na época que a gente estava na Agrovale, mas não sei falar certamente. Sei que o Bruno chegou lá oferecendo uma chácara para o Elvis comprar, pois sabia que o Elvis era empresário e tinha condição. Elvis sempre foi um homem de negócios, se fosse para casar e desse certo ele tava dentro. A chácara que Bruno chegou oferecendo fica aqui na frente do clube Itapema [na TO-010, sentido Lajeado], é uma chácara que era do pai dele, que criava peixe para aquário. O Elvis comprou.”

Vanusa conta que o marido visitou o local com Bruno e que comprou a propriedade confiando na palavra dele. Após organizar e mobiliar o local, a família tem uma surpresa. Segundo conta a esposa, um homem apareceu na propriedade e disse que era o proprietário. Elvisley então disse ao homem que tinha comprado a propriedade de Bruno Cunha e soube que o empresário também a vendeu para este homem, que tinha um documento atestando que a terra era sua.   

Elvisley se lamentou por ter caído em um golpe, conversou com Bruno que prometeu que iria ressarcir o valor pago, mas segundo Vanusa, ele sumiu. Passou um período, Elvisley e Bruno voltam a se encontrar dentro de uma agência do Banco do Brasil, em Palmas. Os dois voltaram a conversar e segundo Elvisley comentou com a esposa, Bruno até chegou a passar um valor para o seu marido naquele mesmo dia do reencontro.

Após esse dia, os dois voltaram a se relacionar e fazer negócios. Bruno também passou a cumprir o que tinha combinado sobre a devolução do valor da chácara. Vanusa relata que por diversas vezes viu o marido ajudar Bruno não apenas em questões de dinheiro, mas em outras situações.

“Bruno foi pegando dinheiro com Elvis e foi protelando. O carro da minha filha, o Bruno pegou para vender. Bruno já chegou na minha casa pedindo por favor pedindo ajuda que tava devendo um cara e não sabia o que fazer. Elvis não tinha o dinheiro e procurou com amigos, mas não achou. O que ele fez? Tinha uma camionete e deu para que o Bruno pagasse essa dívida. Elvis não media esforço para ajudá-lo. Ele chega na minha casa falando que ia morrer se não pagasse dívida e Elvis ajudava.”

A esposa conta que Elvisley acreditava em Bruno, apesar da demora em quitar o dinheiro que pegava com ele.

Sem relato de ameaças

Vanusa afirma que o marido não chegou a comentar com ela sobre sofrer algum tipo de ameaça de morte, mas desde novembro de 2019 percebeu mudanças no comportamento de Elvisley.  “Ele morreu em 24 de janeiro de 2020 e de novembro de 2019 eu comecei a sentir ele um pouco triste, coisa que não fazia parte do papel dele. Eu passei a perguntar se estava acontecendo alguma coisa e ele sempre negou. Se ele recebia, não me falou. Mas eu percebi que algo estava estranho”

Questionada se presenciou alguma discussão de Elvisley e Bruno, Vanusa conta que os dois tinham alguns atritos, mas que sempre se revolviam.  Ela também afirma que diversas vezes viu o marido ao telefone cobrar uma dívida do homem que é acusado de ter mandado matar o seu esposo.

“Ele ligava e dizia: Bruno, por favor, tem que pagar, cara. Você ta me enrolando demais. Tem que pagar.”

Vanusa também foi perguntada se teve alguma coisa que descobriu depois que o marido morreu. “Após a morte eu fiquei sabendo que o Júnior (suspeito de ter atirar) era dono de uma chácara, comprado por Bruno e dada como forma de pagamento para Elvis, que utilizou a terra como parte de em negócio envolvendo a compra de uma casa na Quadra 204 Sul (Palmas).”, conta. Vanusa fala ainda que antes do crime nunca tinha ouvido falar de Júnior.