“E deu daquele vento trazedor: chegou chuva. A gente se escondendo, divididos, em baixo dos pequizeiros, que tempesteava.
Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas

Com todo o potencial alimentar, gastronômico, cultural, farmacêutico, industrial e agrícola do pequi, é preciso que governos, órgãos de pesquisa e produtores rurais olhem para esta fruta não apenas como tradição culinária regional, mas como uma cadeia produtiva promissora que precisa de um plano de expansão com diversos eixos estratégicos, entre outros: melhoramento genético; criação de agroindústrias de diversas escalas e objetivos; marketing; difusão de tecnologia; incentivo aos plantios comerciais, agroflorestais e de recuperação ou enriquecimento de áreas, inclusive urbanas. E também repensar a política de desmate “terra arrasada” do cerrado e o custo de oportunidade envolvido.  

Tipos e variedades

A Embrapa Cerrados e a Emater-GO lançaram em 2022 seis cultivares do pequi, três com espinhos no caroço da fruta; outras três, sem. A Emater-GO mantém uma coleção com mil variedades do pequi, vindas de todo o Brasil, que são usadas para estudos e lançamento de novas variedades comerciais. Existem três tamanhos de frutos dentro desta variabilidade genética: comercial, gigante e supergigante, com peso médio por fruto de 40, 62 e 125 gramas, respectivamente.  

Difícil de germinar 

A semente de pequi é de difícil germinação natural, mas a Embrapa e os produtores comerciais já desenvolveram técnicas de germinação – mais ou menos sofisticadas, que superam este entrave inicial. Não é problema, é simples questão de conhecimento.  

A guerra do pequi  

O Pequizeiro é nativo de todo o Cerrado e ocorre em vários estados. Mas é em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Tocantins que ele tem maior força cultural, gastronômica e socioeconômica. Inclusive há entre eles uma disputa política e de marketing, para trazer para si a condição de “dono” da marca e da tradição cultural e extrativista. Minas regulamentou em 2013 o Programa Mineiro de Incentivo ao Cultivo, Consumo, à Extração, Comercialização e Transformação do Pequi e Demais Frutos e Produtos Nativos do Cerrado, o Pró-Pequi. O extrativismo no Norte de Minas é a base da subsistência de milhares de famílias e da economia de algumas cidades. E o pequizeiro virou árvore símbolo do estado. Montes Claros realiza a Festa do Pequi há mais de 30 anos e corre um projeto de lei na Câmara dos Deputados que oficializa a cidade como capital nacional do pequi, o que desperta controvérsias em goianos, mato-grossenses e tocantinenses. Já no Senado, tramita o Projeto de Lei 862/2021, que estabelece o seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.  

Institucional  

Foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda análise do Senado o PL 1970/2019, que institui a Política Nacional para o Manejo Sustentável, Plantio, Extração, Consumo, Comercialização e Transformação do Pequi e Demais Frutos e Produtos Nativos do Cerrado. Mas o governo federal conta desde 2009 com o Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade. Mais do que leis e planos ou disputas regionais, é preciso trazer para a realidade de todas as regiões do cerrado brasileiro, urgente, os cuidados com este tesouro e a estruturação da sua cadeia produtiva.   

Para ir além 

Leia: o manual “Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável do pequi”, de Washington Luis de Oliveira e Aldicir Scariot – Embrapa, 2010; e a tese de Doutorado da bióloga Sarah Alves de Melo Teixeira “Ecologia política e econômica do extrativismo do pequi (Caryocar brasiliense): bases para seu manejo sustentável em Minas Gerais” (UFMG), que trata da informalidade na cadeia produtiva do pequi. Assista a reportagem do Globo Rural “Biólogo da Embrapa ensina a produzir muda de pequi”.