“Podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos.”
Provérbio chinês

A olericultura – o cultivo de verduras e legumes (ou hortaliças), é um importante eixo de desenvolvimento multidimensional e em várias escalas, por vários fatores: segurança alimentar e nutricional; promoção de hábitos alimentares saudáveis; geração de trabalho, renda e ofícios; rápida resposta de resultados e alto retorno financeiro; sinergia com produção local; reconexão com a natureza; terapia ocupacional e lúdica para crianças, idosos e mesmo adultos; (re)educação das pessoas com excesso de urbanidade; percepção e valorização da produção rural (algo necessário para muitos citadinos nos dias de hoje). Por tudo isto, e conjugado com a vocação e as bençãos do nosso país para a produção agrícola, ela deve ser priorizada e promovida em todas as suas formas nos mais diversos setores e esferas de atuação pública e privada, não apenas como uma mera questão rural.     

Semântica contraditória

A olericultura é a produção de legumes, verduras e tubérculos – as hortaliças. Já a horticultura é mais abrangente, trata da produção das hortaliças e também de plantas frutíferas, medicinais, ornamentais, florestais e de cogumelos. 

Baixo consumo

A OMS recomenda um consumo diário de 400 gramas de frutas e verduras por pessoa, mas a média de consumo brasileira é de apenas 140 gramas. Os fatores que pesam neste déficit são muito menos o poder aquisitivo, mas antes a escolaridade, a facilidade de acesso e, em especial, os costumes regionais. Não é uma questão de dinheiro, mas de educação e hábito.

Nutrição

Hortaliças são sinônimo de boa nutrição e saúde. Elas fornecem, de acordo com cada espécie: fibras, carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais – alguns deles elementos antioxidantes, que retardam o envelhecimento do organismo. E isto tem a ver com a cor da verdura ou legume. Por isto, a sabedoria do ditado chinês “um prato de comida saudável é um prato colorido”.

Saúde da economia

A horticultura gera uma média de 3 a 6 empregos diretos por hectare e outro tanto de indiretos. Atualmente, estima-se de 8 a 10 milhões de pessoas trabalhando na atividade. Só como exemplo, um simples lote urbano de 600 m² pode gerar dois postos de trabalho e renda média anual de dois salários mínimos, em uma produção de horta comum. Então, imagine o potencial de geração de trabalho e renda (e de saúde das pessoas e do SUS) envolvido no aumento necessário do consumo per capita de hortaliças pelos brasileiros.

Diversidade

Verdura não é só alface; legume não é só cenoura. São mais de 100 espécies de olerícolas – quer sejam tuberosas, herbáceas e frutos (veja no portal da Embrapa “hortaliça não é só salada” como comprar, conservar e consumir 50 tipos de hortaliças). E ainda tem as PANCs: carne de pobre (ora-pro-nobis), serralha, cará, maxixe... e mais outras centenas (veja o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais, de Valdely Kinupp e Harri Lorensi). Então, pratique diversidade no plantio e no consumo!

Ferramenta de educação

As hortas – nos quintais e nas escolas, são um recurso didático poderoso para o aprendizado de qualquer disciplina isolada ou no conceito de estudo por processos; elas ainda trabalham os sensos de responsabilidade e socialização, bem como o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas. Além disto, elas ajudam a criar uma mudança cultural nas famílias  e na comunidade escolar.

Mutirão em todos os lugares

Por todo o exposto acima, as hortaliças devem estar em todos os espaços possíveis: nas residências, escolas, empresas, instituições em geral, chácaras de lazer, nas praças, jardins e outras áreas verdes das cidades. Em especial, na agenda dos tomadores de decisão, em todos os níveis, e na difusão de conhecimento, por aqueles que o detém e o gerenciam.