“Manilha na mão de tonto só faz um ponto. Manilha na mão de bobo não ganha jogo!”
Ditado do truco – jogo que ensina a importância do uso estratégico das cartas fortes e da postura dos jogadores, que encerra uma metáfora do nosso atraso como nação.   

A fruticultura é um eixo de desenvolvimento sustentável por si só, pois pode ajudar ainda mais a resolver muitos dos nossos problemas ambientais e socioeconômicos. Mas o desconhecimento geral do enorme potencial da atividade em vários aspectos e dimensões, bem como da enorme diversidade de espécies com alto potencial comercial e estratégico, coloca-nos no atraso – o Brasil em geral, o Tocantins em particular. Isto porque o resultado que alcançamos é muito aquém do nosso potencial quase que único no mundo, quando conjugamos população e mercado interno, área agricultável, disponibilidade de água, condições edáficas e climáticas quase que ideais, base industrial e técnica-científica existente, tradição na atividade e biodiversidade generosa – inclusive no que se refere às frutas, até mesmo com grandes áreas de ocorrência natural.      

Perdemos feio para o Peru  

No ano de 2000, o Peru exportou US$ 100 milhões; o Brasil, US$ 500 milhões. Já em 2018, o Peru exportou US$ 2,6 bilhões; nós, US$ 900 milhões. Em 18 anos, a exportação peruana aumentou 26 vezes; a nossa, menos de 100% – segundo Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da FGV. Isto prova que quem quer, muda realidades em curto espaço de tempo, sob a perspectiva histórica.   

Gargalos   

As dificuldades para exportar frutas são de um lado, internas: padrão de qualidade das frutas, pequena escala e irregularidade da produção, barreiras da língua; de outro, externas: barreiras tarifárias, comerciais, sanitárias e geopolíticas. E acima disto, a falta de vontade política, de políticas públicas e de estratégia setorial que contemplem soluções como cooperativismo, crédito, assistência técnica, pesquisa agronômica, marketing setorial, liberação de defensivos específicos, entre outras. Há um gigantesco desconhecimento e desvalorização das frutas – da sua existência ao seu potencial para o nosso desenvolvimento. É preciso a construção de uma governança com o trabalho de todos para o Brasil enfrutecer, em diversos sentidos.  

Florestas produtivas ambientais 

Dezenas de espécies frutíferas exóticas e nativas de cada bioma, conjugadas com espécies madeireiras, podem ser usadas no conceito de agroflorestas rurais e urbanas. Tanto na RAD (Recuperação de Áreas Degradadas), inclusive em APPs e reservas legais, quanto na conservação e no enriquecimento de áreas de vegetação nativa (a chamada agricultura “suja”, onde as árvores existentes funcionam como tutor de sombra ou base do extrativismo) ou ainda em arranjos de plantio misto na ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta). Este conceito de agroflorestas é revolucionário, pois quebra o antagonismo da produção versus conservação, dá sentido econômico a esta, viabiliza a recuperação de milhões de hectares de áreas degradadas e ainda é parte importante do programa de empregos verdes, de altíssimo potencial. Mas exige a evolução das cabeças pensantes tanto na gestão agropecuária quanto na ambiental.