As razões para as pessoas e as instituições adotarem animais e a causa do seu bem estar são fortes, muitas e sob aspectos variados (veja, para entender isto, a coluna anterior). Todos devem entender a causa animal não como menor, mero favor aos bichos, mas como um meio poderoso e eficaz de evoluir diversas políticas públicas – portanto, obrigação legal e ética de muitos. A evolução humana contou bastante com a parceria generosa dos animais domesticados em vários sentidos. São urgentes e devidas: a reflexão coletiva sobre o grau civilizatório do nosso autodeclarado “desenvolvimento” e “urbanidade” – sob a perspectiva de nossas atitudes, como gestores e cidadãos, em relação a eles e a nós mesmos; e a construção de uma governança em torno do tema, onde a responsabilidade é de todos, cada qual com suas vocações e forças. E sem as desculpas de sempre!

Motivações e olhares múltiplos

A questão é complexa nas suas diversas facetas e relações causa e efeito, problemas e soluções. Assim, ela exige distintos olhares para o seu dimensionamento e solução – não apenas o de cuidadores e defensores da causa, mas também o de médicos veterinários, criadores, adestradores; e os de pensadores, formuladores e executores das diversas políticas públicas. Olhares que vão da compaixão ao interesse legítimo; do pessoal ao público; dos direitos aos deveres; do pontual ao todo. Olhares bem atualizados por inúmeras e distintas áreas de conhecimento e de gestão. Por isto, a audiência recente do Ministério Público do Tocantins deve servir de exemplo para que universidades, prefeituras, conselhos profissionais e os sistemas de governos integrados (?) de saúde, educação, segurança e assistência social promovam outras discussões intersetoriais para o entendimento e o avanço da questão.  

Troca de equações

Sob uma visão econômica de oferta e demanda e de boa gestão – integrada, é fácil resolver a equação: se todos entenderem os enormes e muitos benefícios da presença de gatos e cachorros em lares, escolas, unidades de saúde, empresas e órgãos públicos, vai faltar animais para serem adotados. Assim, as ONGs e os governos não podem ser acumuladores de animais, mas antes distribuidores deles. Eles não precisam de depósitos para ficarem, mas de lares e espaços de trabalho, até mesmo nas ruas; não precisam de pena ou tutela legal, nem (Deus nos livre!) da burocracia brasileira; mas de parcerias e acolhimento, tal como os homens da caverna fizeram há milhares de anos. Os bichos não precisam de pena, mas de respeito. Bichos – assim como o todo da natureza, não são problemas ou estorvo, mas solução e força para nos ajudar.         

Comunicação

Governos em suas diversas instâncias e esferas tem verbas, equipes e expertise de comunicação social de sobra. Resta a sua contaminação por bons valores e diretrizes que migrem os seus objetivos e prioridades de uma comunicação autopromocional e narcisista para aquela que promova educação, conhecimento e engajamento da população e de setores diversos para as boas causas de gestão e cidadania, que andam sempre atreladas e que exigem a construção de ampla governança.

Cuidados, não veículos

As prefeituras podem fazer e organizar boas parcerias com clínicas veterinárias (inclusive descontar do ISSQN por elas devido) para que realizem castrações e outros procedimentos. Castromóvel é uma solução sofisticada, secundária e que carrega falhas e riscos importantes. Enfim, é preciso pensarmos uma equação de um “SUS animal” atrelado ao SUS humano e aos seus interesses.  

Vocação e adequação

De um lado, cães e gatos carregam gigantescas diferenças entre espécies, raças e indivíduos – em termos de tamanho, temperamento, necessidades, aptidões, riscos no convívio, custos de manutenção, etc. De outro, diferentes grupos de pessoas, setores e atividades possuem gigantescas diferenças entre capacidades, espaços, necessidades, motivações, interesses e limitações. Um equacionamento bem feito de promoção de adoções e parcerias exige o bicho adequado ao espaço e às pessoas adequadas. Mais um motivo para todos os setores se engajarem, no universo urbano e rural.     

Maus tratos

Assistir aos vídeos, saber de reportagens ou relatos dos defensores de animais exige estômago, não é para qualquer um. E desafia a nossa fé e esperança nos humanos e brasileiros. Uma parte da solução da causa do bem estar animal é educação e pacto social na direção de um avanço civilizatório. Outra é cobrar e exercer a punição de maus tratos, hierarquizando e apartando graves covardias e maldades do desleixo, despreparo e abandono. E ainda, combater os maus valores individuais e coletivos que estão na origem daqueles e de outras mazelas brasileiras.