Imagens feitas por um brigadista na Ilha do Bananal mostra o combate noturno às queimadas, no último dia 20 de setembro, próximo ao local conhecido como “Mata do Mamão”, uma área conhecida por abrigar índios isolados da etnia indígena Avá-Canoeiro, na Terra Indígena Inawebohonã (lugar onde estoura a barriga da gente, na língua Karajá) dentro da ilha.
 
Segundo o brigadista, o fogo estava na parte norte da Mata do Mamão e tinha crescido muito naquela noite. Nesta terça-feira, 23, o JTO não conseguiu contato com os combatentes. Nas imagens é possível ver viaturas que o autor das imagens diz pertencerem à Funai (Fundação Nacional do Índio) e ao PreviFogo, que atuavam no combate ao fogo naquela madrugada. De acordo com o autor, as imagens foram feitas por volta de 1h da madrugada de domingo,20.
 
Para o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH) as queimadas que atingem o local não são naturais, mas provocadas por pessoas que criam gado na região, conhecidos como retireiros, assim chamados por instalaram retiros (sede improvisadas de fazenda) dentro da ilha para controlar rebanhos de gado. 
 
“É um absurdo. Todos os anos eles aumentam a área de pasto dentro da ilha e cada vez mais eles ameaçam a vida dos índios isolados”, afirma Maria de Fátima Dourado da Silva presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH/TO) e do Centro dos Direitos Humanos de Palmas.
 
Desde julho deste ano, uma decisão da Justiça Federal obriga o governo federal, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a Funai (Fundação Nacional do Índio) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a adotarem medidas de proteção de indígenas refugiados no interior da Ilha do Bananal, na região conhecida como “Mata Mamão”. 
 
A decisão também obriga o Instituto Chico Mendes de adotar medidas para restringir a entrada e trânsito de pessoas no Parque Nacional do Araguaia e de proteger as localidades onde há indícios da presença dos indígenas isolados. Além de relato do do indígena Karnascócia e da antropóloga Patrícia Rodrigues sobre a existência desse povo na região, a ação incluiu o testemunho de um servidor do Ibama identificado como Sidnei relatou ter visto e contado seis adultos e duas crianças indígenas com a cara pintada de preto em 2019. O povo Avá-Canoeiro é chamado de “cara-preta”.
 
Bovinocultura
A ocupação da ilha para a criação de rebanhos é situação reconhecida publicamente. O Governo do Tocantins, neste ano estima que a Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) vacinará mais de 100 mil bonivos contra a febre aftosa na Ilha do Bananal, em ação que vai até 30 de setembro. Esse rebanho, segundo a estimativa da agência pertence aos indígenas e produtores rurais, que estão distribuídos em 344 retiros.