Dídimo Heleno
 
Eu estou longe de ser um expert em tecnologia, mas os meus parcos conhecimentos são suficientes para discernir o que é bom e o que é ruim nessa seara. O Processo Judicial Eletrônico (PJe) é ruim. O Sistema Processual Eletrônico (e-Proc) é bom. Isso é tão simples quanto oferecer a alguém um corte de filé e um de pescoço e perguntar qual é o mais macio. 
 
Se perguntarmos a cada dez advogados o que eles acham do PJe, onze dirão que é uma lástima. Mas, mesmo assim, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pretende transformá-lo numa plataforma multisserviço para ser implantada em todo o país. E por que não se concebe o e-Proc, sistema autoexplicativo, fácil, sem complicações, como o único e mais querido? Mistério. 
 
Obviamente não precisamos ser adivinhos para imaginar que por trás disso tudo há muita vaidade, orgulho e, claro, interesses vários. O Processo Judicial Eletrônico é pesado, necessita de caras ferramentas para funcionar, comumente sai do ar e é quase certo que você irá encontrar um advogado descabelado, olhos esbugalhados e catatônico após um dia de trabalho labutando com ele. Alguns colegas me alertaram que, caso um prazo vá vencer na segunda-feira, cumpra-o na quinta anterior, para não correr o risco de perdê-lo por conta de algum travamento do sistema.  
 
As redes sociais estão inundadas de memes sobre o PJe. Num desses, aparece um homem dizendo: “Gata, me chama de PJe e deixa eu te enlouquecer”. Um outro diz: “Você pode substituir o descanso pelo trabalho remoto no PJe”. E mais: “Está na hora de cair informática no exame da OAB”. E, para finalizar e ficar apenas nesses exemplos, uma imagem do personagem Coringa aparece acima do seguinte texto: “O ator Joaquim Phoenix disse que para estudar o personagem e se aproximar da loucura tentou acessar o PJe no fim de semana”. 
 
Por tudo isso, não faz o menor sentido que tal sistema goze da preferência de autoridades que podem decidir sobre a questão. É, de fato, um mistério profundo. Ou, então, uma conspiração secreta para enlouquecer advogados. Se essa é a intenção, informo que tal êxito foi obtido com sucesso. Muitos profissionais estão doidos e outros tantos já se encontram na fila do hospício, inclusive este causídico que vos fala.