Dídimo Heleno

Advogar, sem nenhuma dúvida, é uma das mais árduas e difíceis profissões. Claro que minha afirmação pode estar contaminada pelo fato de eu ser advogado. Quem labuta na advocacia precisa, a todo instante, provar que é íntegro e, como a mulher de César, não basta ser, tem que parecer honesto. Essa não é uma tarefa simples e acaba sendo muito desgastante do ponto de vista psicológico. O advogado não está sozinho numa causa. Ao seu lado tem um cliente, sempre à espreita, tenso e em busca de um único objetivo: vencer. 

Do outro lado está a parte ex adversa, que também tem um advogado. Entre todos um juiz e um promotor, este em alguns casos. E a qualquer momento o advogado é confrontado, questionado, inclusive e principalmente pelo seu próprio cliente, que volta e meia lhe atira um olhar desconfiado de esguelha. 

A sociedade, de modo geral, suspeita do advogado. Nosso sistema é moldado para que todos tenham receio de todos. Estão aí os cartórios que não me deixam mentir. Eles basicamente existem porque o Estado não confia no contribuinte, este não confia naquele e ninguém confia em ninguém. Precisa-se de um tabelião, munido da tal “fé pública”, para chancelar documentos e dar a eles credibilidade. 

O advogado, de modo geral, é visto como um ser esperto demais, sempre querendo dinheiro, um quase maníaco que vai lhe arrancar as vísceras para atingir os objetivos, caso necessário. Essa imagem distorcida é, muitas vezes, confirmada pela atuação de alguns profissionais, que acabam maculando a classe. Mas isso ocorre em qualquer profissão. 

O profissional que talvez seja o maior alvo de piadas infames é o advogado. Vencer uma causa nem sempre é sinônimo de reconhecimento, mesmo por parte de alguns clientes, que só enxergam mérito no seu direito e não na atuação do causídico. Advogar é um manancial de adrenalina, emoções e agruras.  

Estamos todos nós, advogados e advogadas, à mercê das mais absurdas e, em alguns casos, propositais maledicências. Não é incomum que esse profissional seja alvo de críticos e ácidos comentários, até mesmo porque numa demanda há o vencedor e o vencido, exceto em caso de acordo. O ressentimento costuma ser o principal efeito colateral da profissão. 

O prazo está para o advogado como o tempo para o desarmador de bombas. Qualquer descuido pode ser fatal. A tão propalada “paridade de armas” só é real para os incautos. Advogue contra o poder público e me diga se há igualdade de tratamento. Apesar de tudo, não é raro ouvirmos depoimentos apaixonados de profissionais que se dedicam arduamente ao inóspito ofício. A exemplo do bode comendo cansanção, gemem. Mas gostam.