Dídimo Heleno

Foi lançado no último dia 23 o livro “Trazendo Caroliona Maria de Jesus para o Direito”, contendo somente artigos de advogadas negras. A obra foi organizada por Mônica Alexandre, secretária adjunta da OAB Rio de Janeiro, presidente da Associação Carioca de Advogados Trabalhistas (ACAT) e advogada trabalhista. 

O livro homenageia Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, autora do clássico “Quarto de despejo – Diário de uma favelada” (Editora Ática, 10ª edição, São Paulo, 2022). Nessa impactante obra, Carolina relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela e, com uma linguagem muito simples leva o leitor à comoção, em razão do realismo chocante e a sensibilidade como escreve suas agruras durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos. 

Como se extrai do citado livro de Carolina Maria de Jesus, “ao ler este relato – verdadeiro best seller no Brasil e no exterior –, você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber com tristeza que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu a atualidade”. A escritora foi catadora de papel e, “apaixonada por livros, ela alimentava sonhos e desabafava a sua triste realidade nas folhas encardidas de seus cadernos, que, mais tarde, tornaram-se públicas por meio desta obra única”. 

Mônica Alexandre, organizadora do livro, é a primeira negra na diretoria da OAB Rio de Janeiro (daí dá para perceber o absurdo da exclusão). Ela diz que “foi um enorme prazer organizar o livro que celebra uma escritora genial e que inspira todas nós, mulheres pretas, que buscam seus espaços. Vamos exaltar ainda mais a importância de Carolina Maria de Jesus, mas agora na área do Direito e não somente no cenário literário”, pontuou. 

Por coincidência, recentemente tive acesso ao livro de Carolina Maria de Jesus, presenteado que fui pela médica e amiga Letícia Aires (Tita). Na minha ignorância, tive que confessar não conhecer a autora até aquele momento, mas o seu livro é forte, único e todos deveriam viver a experiência dessa leitura. Ler a obra é acompanhar o sofrimento de uma mãe, catadora de papel, migrante de Sacramento, Minas Gerais, cujo cotidiano de dor era amenizado pelo amor à literatura. 

“Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia. Tem pessoas que, quando estão nervosas, xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário”. Esse é um dos depoimento de Carolina de Jesus. Além de “Quarto de despejo” (diário, 1955-1960), ela escreveu “Casa de alvenaria” (diário, 1961), “Provérbios” (memória, 1963), “Pedaços da fome” (memória, 1963), “Diário de Bitita” (memória, 1986), “Antologia pessoal” (poemas, 1996) e “Meu estranho diário” (1996).