Dois funcionários efetivos há mais de 20 anos da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seisp) que trabalham no Aterro Sanitário de Palmas apontam perseguição da gestão municipal ao impedir a entrada dos dois no local desde terça-feira, 28 de março, um dia após a publicação do Jornal do Tocantins em que mostra vazamento de esgoto em uma das células de tratamento e o líquido corrosivo em contato direto com o solo. 

Na segunda-feira, 27, o Jornal do Tocantins publicou matéria sobre a situação do Aterro Sanitário da Capital. Imagens do local, visitado pelo JTo na data, mostram o aterro com escoamento do rejeito líquido, conhecido como chorume, um líquido escuro que resulta da decomposição da matéria orgânica do lixo, transbordando por cima da manta de impermeabilização da  célula, e escorrendo pelo solo bruto. Um funcionário do local não permitiu a entrada até a célula, mas confirmou que havia vazamentos. Segundo o funcionário, se trata de uma lagoa antiga.

João Evangelista Marques Soares, de 68 anos e Antônio Adeluzio Gomes de Azevedo, de 60 anos, trabalham no monitoramento do aterro e fazem visitas no local semanalmente, de forma intercalada ou em conjunto.

Os dois funcionários publicaram juntos o livro “O que eu faço com meu lixo? Resíduos sólidos: Da geração ao destino Final” obra que une dos componentes da ciência e do meio ambiente, publicado em 2019.

Engenheiro Civil, lixólogo e doutor em Educação, João Evangelista Marques Soares é concursado há quase 23 anos e relatou que na terça-feira, 28, ao chegar no aterro para monitorar a criação de peixe, um funcionário informou, por meio de áudio, que ele e Antônio estavam proibidos de entrar. 

“Eu só descobri que estava proibido de entrar quando eu cheguei lá”. Após a situação, ele contou que não houve mais comunicação por parte de ninguém sobre o impedimento. “Depois disso, ninguém me comunicou nada, eu apenas trabalho, cumpro com meu dever e pronto”.

João e Antônio contam que estão trabalhando regularmente na Seisp e afirmam se sentir perseguidos pela atual gestão do município. “Não há outra forma de pensar não, é isso mesmo, é perseguição, só pode ser, não tem outra coisa”, diz Antonio.

Antônio soube que estava proibido por meio do áudio que um funcionário enviou à João. No dia, João iria fazer o monitoramento sem a companhia de Antônio.

No áudio consta que ele também estava proibido de entrar. “Eu realmente não sei o porquê de eu estar impedido. Eu tenho 20 anos de aterro sanitário, trabalhando sempre, e não sei, eu gostaria muito de saber o motivo”. 

Concursado como assistente administrativo há 23 anos na pasta, Antônio é gestor ambiental, economista e mestre em engenharia Ambiental. Ele também relata que não tem nada contra o Aterro Sanitário e que só colaborou até o dia 28.

O Jornal do Tocantins questionou a prefeitura sobre as razões dos dois funcionários estarem proibidos de entrar no local, mas não houve resposta.

Aterro Sanitário com vazamento

O escoamento do rejeito líquido, conhecido como chorume, resultado da decomposição da matéria orgânica do lixo transborda sobre a manta de impermeabilização da  célula e escorre pelo solo bruto, uma situação que coloca em risco a contaminação do solo de lençóis freáticos, outros mananciais e depósitos aquíferos subterrâneos.

Segundo a engenheira ambiental Ana Maria Cortes Franco, o derramamento deste líquido no solo é um grande problema, pois “o chorume é altamente poluente e a célula projetada não comporta o volume de chorume gerado”. 

Ana explicou que além de todo o transtorno causado para o meio ambiente, o chorume tem um potencial enorme de provocar impactos para a própria saúde humana e a dos animais. “Isso porque o controle da infiltração e da qualidade das águas subterrâneas é difícil e custoso. Em locais de baixa renda, atingidos diretamente pela falta de saneamento, a utilização de água contaminada com chorume é muito provável de acontecer”.

Ela ainda apontou nos registros fotográficos, a queima de galhadas como outro problema. “Deveriam direcionar para uma compostagem. A pilha de galhada aparentemente seria para compostagem. Mas no fundo da imagem temos a fumaça que é sugestivo de queima para reduzir volume”.

O jornal questionou a prefeitura de Palmas sobre os problemas estruturais do aterro. A gestão também ignorou este pedido.