Além de ser um problema na saúde pública, a pandemia da Covid-19 também coloca à tona uma série de desigualdades sociais no País. Uma delas — e que se agrava em tempos de ensino remoto — é a falha sistêmica na inclusão educacional de alunos com deficiência. A dona de casa Edenice Ferreira da Silva Ramos, moradora de Palmas, vive essa situação complicada.

A mãe conta que sua filha Emanuelle da Silva Ramos, 9 anos, em 2018, recebeu  o diagnóstico de síndrome rara chamada Lennox-Gastaut. A doença é uma forma de epilepsia generalizada, também intitulada como Transtorno do Desenvolvimento Intelectual. Por este motivo, Emanuelle necessita de cuidados e atenção especializada na hora do aprendizado. Mas segundo a mãe, a família não encontrou até o momento nenhuma vaga em escola municipal que atenda as necessidades da criança.

Edenice ainda explica que a menina estudou até então na Escola Municipal Estevan de Castro, porém, ela precisa de um lugar que atenda sua deficiência intelectual.

Um laudo expedido por um neurologista destaca que a menor necessita de um ambiente escolar, com adaptações curriculares. “Minha filha não precisa da Apae, porém, ela também não consegue desenvolver em uma escola que não atenda essa necessidade especial que ela apresenta. A Emaunelle precisa treinar a fala, a condenação motora, necessita de atenção e de uma escola especial para que tenha um professor o tempo inteiro instruindo ela”.

Município

Ao Jornal do Tocantins, a Secretaria Municipal da Educação afirmou que analisará o caso junto à família, para localizar uma escola adequada para criança.

Conforme a portaria de n° 0730, do Município, um dos critérios prioritários no momento da matrícula do aluno é justamente em referência às crianças que tenham deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotada.

O segundo semestre letivo prevista para o dia 3 de agosto, a Secretaria Municipal da Educação informou que disponibilizará uma nova alternativa para o retorno em formato híbrido para os estudantes. A Rede Municipal de Ensino irá realizar aulas interativas, com transmissão online ao vivo das aulas presenciais. Essa transmissão será realizada pelo canal pelo School no YouTube. 

Conforme a Educação de Palmas, para a implementação das salas interativas algumas unidades educacionais foram selecionadas e receberam estrutura para transmissão ao vivo das aulas. A estrutura nova tem salas estúdio com computadores, acesso à internet, câmera e microfone para transmitir em tempo real as aulas. 

Seduc

O Jornal do Tocantins também questionou à Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc) sobre o atendimento aos alunos da Associação de Pais e Amigos Excepcionais (APAE) e em nota, a pasta informou que o atendimento educacional nas 31 escolas especiais/Apaes conveniadas ao Governo do Tocantins seguem as mesmas orientações do planejamento adotado para o restante da rede estadual de ensino, com atividades não presenciais realizadas por meio dos roteiros de estudos e acompanhamento dos professores e equipes das unidades.

A Seduc também ressaltou que o atendimento presencial nas Apaes está autorizado por decreto governamental, de 14 de maio, e condicionado a decretos municipais que suspendam atividades presenciais. 

Adaptação

A psicopedagoga Bruna Rossetto destaca que nesse momento de pandemia, as aulas online se tornaram um desafio ainda maior para alunos com algum tipo de deficiência e transtornos. Segundo a especialista, os pais e professores tentam preencher o vazio deixado pelo distanciamento social, e os alunos com Transtorno do Espectro do Autismo, síndrome de Down, deficiência visual, auditiva, intelectual ou outras condições especiais tentam se adaptar ao novo modelo de ensino remoto. Porem, ela acredita que mesmo com esses apoios, as dificuldades enfrentadas são inúmeras.

“Não são todos alunos que conseguem, por exemplo, acompanhar as atividades impostas pelas escolas, nesse momento pandêmico”. Bruna justifica que um dos grandes gargalos é que não existem as adaptações necessárias nos materiais às deficiências de cada um e isso tem se tornado, em sua percepção, cada vez mais impossível de acontecer em aulas remotas, visto que, alunos com certas limitações, necessitam de um acompanhamento mais engajado. “Além disso, o acesso aos recursos exigidos para a aplicação das aulas online é limitado em boa parte das famílias ou existem de maneira precária”, acredita.

A psicopedagoga ainda aposta que neste cenário, a maioria dos pais assumiu os papéis de professores, e ainda continuam exercendo suas profissões. “Uma rotina que exigiu adaptações dentro de casa e, por grande crescimento por profissionais na área psicopedagógico vem crescendo consideravelmente, isso em razão da grande deficiência de recursos e adaptações necessárias para a educação inclusiva”, finaliza.