Na propriedade do agricultor Pereira Lima, de 64 anos, localizada no km 11 da TO-050, na Capital, existem os mais variados tipos de árvores frutíferas como cajueiros, pequizeiros, mangueiras, entre outras, que sempre produzem muitos frutos. Mas, no lugar de pés carregados, característica da época, só existem árvores com pouquíssimas flores e quase nenhum fruto, reflexo da falta de chuvas.

“Com certeza diminuiu a produção de frutas e dificultou para o agricultor. Acredito que a maior parte da produção da zona rural da nossa região está sendo sacrificada. Mesmo que as frutas do cerrado dependam dessa escassez hídrica, quando é muito acentuada, elas sentem”, contou Lima.

E a situação se repete nas propriedades de Bento da Silva Monteiro, de 47 anos, e de Josenildo Thiago dos Santos, que ficam no assentamento São João, zona rural de Palmas. “Temos pés de acerola, manga, coco, mandioca e outras coisas. Agora que estamos sem, aguamos com água do poço só as pimentas, que não aguentam”, disse Monteiro. 

Santos completou que as mandiocas, plantadas em fevereiro, ainda estão pequenas, e deveriam ser vendidas para mercados da cidade: “Se estivesse chovendo, já estaríamos comendo.”

E as percepções dos agricultores estão corretas. De janeiro a julho deste ano, a quantidade de chuva diminuiu 19,02%, com relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com o professor e pesquisador da área de fruticultura tropical da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), Thiago Magalhães de Lazari, as condições climáticas causaram esse atraso na florada e produção frutífera. “As nossas chuvas são muito bem distribuídas da forma como as espécies frutíferas precisam, com seis meses de chuva e seis meses de seca. A planta precisa desse período de estiagem para poder florescer mas, neste ano, nossas condições foram muito atípicas.”

No Estado, choveu 737,6 mm até julho deste ano. No mesmo período do ano passado, foram registrados 910,9 mm de chuvas

Lazari ainda explicou que, como não houve chuva no início do florescimento, os poucos frutos que apareciam foram abortados pelas plantas. “Isso acontece porque as condições ambientais estão extremamente desfavoráveis e a planta, através do seu sistema metabólico e fisiológico, compreende isso. Elas floresceram, mas não da forma que floresciam antes. Agora, você terá um pé de caju florescendo 40% a menos”, ressaltou.

Ainda de acordo com o pesquisador, as plantas endêmicas da região, como o murici, bacaba ou babaçu, sentem um pouco menos, por estarem acostumadas com as condições climáticas. Mas plantas como o caju, cajuí ou manga, que são nativas, mas não estão há tanto tempo na região, sentem um pouco mais os efeitos da estiagem.

 

Florescer do ipê dura poucos dias

As belas árvores de ipês que estão decorando a Capital nos últimos dias também são afetadas com o período de estiagem. De acordo com Aquidauana Miqueloto, professora da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) e doutora em Fisiologia de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (MG), o período de florescimento do ipê ocorre geralmente entre os meses de junho e setembro. “Entretanto, não há um mês específico para ocorrência do florescimento, durante esse período, uma vez que a floração dessa espécie é dependente das condições ambientais, como distribuição hídrica, temperatura e outros”, explicou.

Ainda de acordo com a professora, já foi verificado, na Capital, que o florescimento aconteceu em abril deste ano. “Isso ocorreu porque em janeiro e fevereiro houve uma baixa distribuição pluviométrica, o que contribuiu para indução do florescimento da espécie. A baixa distribuição de chuvas ocasiona um estresse na planta, que modifica o balanço hormonal e ativa algumas enzimas e proteínas associadas ao processo de floração, induzindo o seu florescimento”, disse, ressaltando também que o florescimento dos ipês não está condicionado somente ao déficit hídrico (falta de água), mas também a inúmeros outros fatores ambientais como a temperatura ou a luminosidade, que ocasionam um estresse na planta e alteram os níveis hormonais endógenos, que contribuem para a formação de flores nessa espécie.