Vendedor em uma empresa de telefonia, Thiago Marasca Moura, 27 anos, conhecido como “Marasca”, um dos alvos da Operação Passe Livre, da Polícia Federal, prestou depoimento na terça-feira, 23, no qual defendeu espontaneidade de todos os participantes do bloqueio da ponte da Integração no ano passado e negou ter sido um dos seus organizadores ou financiadores.

A negativa consta do depoimento dele que o JTo teve acesso. Ele foi alvo de busca e apreensão em um inquérito aberto pela Polícia Federal que apura a suposta prática de crimes previstos no Código Penal Brasileiro, como “associação criminosa, atentado contra o Estado Democrático de Direito e atentado contra a segurança de meio de transporte”.

A Polícia Federal imputa a Marasca a participação nos atos e a administração de perfil de rede social que convocava a população para protestos em prol de intervenção militar, após os resultados das eleições 2022.

No depoimento, Marasca  assumiu ter criado e mantido o perfil no Instagram Endireita-TO para divulgar notícias de "política, serviço social, prestação de serviço", mas negou que a conta tenha sido criada para a manifestação.  “[O perfil] teve o papel de convidar pessoas que quisessem participar da manifestação de forma pacífica", disse.

Segundo Marasca, não havia organização nem hierarquia entre os participantes do bloqueio, porque “o povo decidiu ir e participar", disse ao delegado da PF Joaquim Nivaldo de Macedo. 

O vendedor também negou conhecer ou existir qualquer liderança local ou regional com uma conta bancária ou pix para receber valores para financiar as manifestações. "Não houve um líder, coordenador financeiro ou arrecadador de recurso”, garantiu.

Marasca também negou ter tido contato com nenhuma liderança nacional dos movimentos antidemocráticos. "Apesar desse movimento acontecer nacionalmente, não houve integração entre as manifestações", depôs.

Ao ser perguntado sobre os demais alvos, ele disse reconhecer apenas dois. Um deles é o policial militar Nelcivan Feitosa, conhecido como Pastor Nelcivan, das redes sociais. No depoimento, ele disse acreditar que, por ser figura pública que "muita gente gosta", o policial estivesse "querendo se promover politicamente".

O outro é Bruno Figur. Segundo Marasca, ele era caminhoneiro e havia trabalhado, em anos anteriores, no transporte de milho da fazenda dos avós dele, que moram em Buritirana. O endereço alvo da Polícia Federal era na fazenda dos avós dele. Mas ele disse que há mais de dois anos reside em Palmas. 

Sobre Figur, ele disse lembrar de ter ido algumas vezes ao acampamento de apoiadores de Bolsonaro em frente ao Exército e soube que o alvo esteve por lá.

Ele também disse conhecer "de vista" o zootecnista Lincoln Lima Garcia Bernardo, 34 anos, mas não sabe qual papel este alvo exerceu no movimento. 

Na avaliação do vendedor, ele acabou apontado como líder do movimento porque foi filmado sobre um carro de som dando algum aviso, com outras pessoas também falaram, mas ele não soube dizer quem era o responsável nem quem financiou o carro de som.

Sobre um grupo de WhatsApp com o sobrenome dele, com parentes entre os participantes, ele afirma que nenhum financiou qualquer ato do movimento nem participou do bloqueio na ponte.

Ele afirma que trabalhou por cinco anos, entre 2017 e 2022 na fazenda da família, onde a PF o procurou para apreender o celular, mas na época das manifestações trabalhava em um hotel em Palmas, de onde acabou demitido e hoje é supervisor de vendas de uma empresa de telefonia.

Marasca disse que prestou depoimento de forma espontânea na superintendência da Polícia Federal (PF) após tomar conhecimento dos mandados contra sua pessoa.