O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou que a Polícia Federal use provas sobre o vazamento de dados sigilosos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na investigação que a apura a atuação de uma milícia digital voltada a ataques contra as instituições.

De acordo com a decisão do magistrado, tomada dia 4, o material poderá ser aproveitado também em um terceiro inquérito, sobre a fala do chefe do Executivo que relacionou vacinação contra a Covid-19 e o risco de se contrair o vírus da Aids.

O compartilhamento de provas foi pedido pela delegada Denisse Ribeiro, policial encarregada de uma série de investigações que têm como alvos Bolsonaro e se aliados.

Moraes concordou com a proposta por identificar pontos em comum entre as diferentes frentes de trabalho, seja pelos suspeitos ou pela forma de agir.

"Verifico a pertinência do requerimento da autoridade policial, notadamente em razão da identidade de agentes investigados nestes autos e da semelhança do modus operandi das condutas aqui analisadas com as apuradas nos Inquéritos 4.874/DF [milícia digital] e 4.888/DF [fake news], ambos de minha relatoria", escreveu o ministro.

No inquérito em que foram colhidas as informações a serem compartilhadas, a PF disse ter visto crime de Bolsonaro em sua atuação no vazamento de dados sigilosos de uma investigação sobre suposto ataque ao sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Atribuiu também responsabilidade no caso ao deputado Filipe Barros (PSL-PR) e ao ajudante de ordens presidencial, Mauro Cid. Tenente-coronel do Exército, Cid foi indiciado.

Denisse Ribeiro disse que a publicização do inquérito sobre a invasão cinernética ao TSE se deu com "o nítido desvio de finalidade e com o propósito de utilizá-lo como lastro para difusão de informações sabidamente falsas, com repercussões danosas para a administração pública".

O material foi usado pelo presidente durante uma transmissão online com o propósito de respaldar a tese, desmentida pelo TSE, de que as urnas eletrônicas são vulneráveis a invasões.

Para a investigadora, o vazamento e o uso do conteúdo para disseminar desinformação é mais um episódio que envolve a milícia digital alvo de inquérito próprio, também relatado por Moraes e que tem como suspeitos aliados do presidente.