O depoimento da diretora comercial da joalheria H. Stern, Maria Luiza Trotta, contradiz versão dada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), preso na Operação Calicute, sobre compras de joias com dinheiro vivo.

Trotta afirmou que o economista Carlos Emanuel Miranda, apontado pelo Ministério Público Federal como operador financeiro da quadrilha, era o responsável por pagar, em espécie, os presentes escolhidos pelo ex-governador para a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.

Em seu depoimento, Cabral afirmou que não sabia de "compras efetuadas por Carlos Miranda 'em espécie'". O peemedebista declarou que não eram para ele, "não podendo explicar tais compras de outras pessoas".

Cabral disse à Polícia Federal conhecer Trotta, tendo adquirido joias com ela "uma ou duas vezes, não se recordando a forma de pagamento".

Adriana Ancelmo, em seu depoimento, também negou que tenha tido joias pagas pelo suposto operador.

A diretora da joalheria contou história diferente à PF: "Os pagamentos das compras de joias feitas por Sérgio Cabral e sua esposa eram efetivados pelo assessor Carlos Miranda, que agendava com a declarante uma data na qual pessoalmente, ou através de portador, levava o dinheiro em espécie que era entregue no interior da loja H. Stern em Ipanema".

A diretora ressaltou em seu depoimento que Miranda nunca foi cliente da loja, tendo como única função pagar as compras de Cabral.

Em seu depoimento, o economista afirmou que conhece Trotta, mas disse não se recordar de ter adquirido joias na H. Stern.

A PF apreendeu no apartamento de Cabral 40 joias, guardadas no cofre do quarto do casal.

Miranda era um dos responsáveis, segundo o MPF, por recolher e administrar a propina paga por executivos de empreiteiras.

Além de usar sua consultoria para receber valores indevidos, gerenciava o dinheiro vivo arrecadado ilegalmente, de acordo com as investigações.

Trotta afirma que ia à casa do ex-governador para levar "joias de amostragem, as quais eram selecionadas ou não pelo próprio Sérgio Cabral ou por sua esposa".

Ela afirmou que passou a atender pessoalmente o peemedebista a partir de 2013, embora o conheça desde 2009. "[Ela afirma] Que chegou a vender joias de até R$ 100 mil a Cabral, tais como anéis de brilhante ou outros tipos de pedras preciosas", diz o termo de depoimento.

A gerente da loja Antônio Bernado, Vera Guerra, afirmou que Cabral era seu "cliente pessoal".

A última compra, relatou, ocorreu há cerca de dois anos. Foi um "colar de ouro avaliado em cerca de R$ 10 mil, pago em dinheiro".