Foi do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a missão de telefonar para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na tarde de quinta-feira (2), e sondar a possibilidade de o petista receber Michel Temer no hospital Sírio-Libanês, onde sua mulher, Marisa Letícia, está internada desde o dia 24 de janeiro.

Lula disse que não se opunha. Horas depois, diante do presidente, Meirelles e de outros ministros e parlamentares da comitiva de Temer, o petista mostrou disposição para o diálogo: "Pelo Brasil, falo com qualquer um".

Não era uma afronta. A conversa entre Temer e Lula durou 18 minutos, em que o presidente mais ouviu do que falou.

Em uma das salas do hospital Sírio Libanês, previamente revistada pela segurança presidencial, Lula agradeceu o gesto de Temer e disse que nunca mistura relação pessoal com divergência política.

"Disse isso para a Marta [Suplicy], que veio aqui hoje. Não é porque ela saiu do PT que vou esquecer que a conheço há 30 anos", afirmou o ex-presidente.

Temer sorriu. Bastante formal, como de costume, o presidente ouviu de Lula críticas à reforma da Previdência e que o Brasil precisa "superar a crise e voltar a crescer gerando empregos", fórmula repetida publicamente pelo ex-presidente.

O peemedebista, por sua vez, disse que estava "feliz" em ouvir aquelas palavras do adversário político. Em seguida, cumprimentou Lula, assim como todos os outros presentes, antes de deixarem o hospital em São Paulo.

Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), amigos de Lula e Temer, lideravam o grupo, composto pelos senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Eduardo Braga (PMDB-AM), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e pelos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral), Eliseu Padilha (Casa Civil), Helder Barbalho (Integração Nacional), José Serra (Relações Exteriores), além de Meirelles.

CHEGADA
Temer chegou ao hospital às 22h30 desta quinta ao lado da grande comitiva. Foi hostilizado por cerca de dez simpatizantes do PT, que o chamaram de "assassino" e "golpista" na entrada principal do Sírio Libanês.

Horas depois, ao saber da repercussão, Lula disse a aliados estar chateado com as manifestações e afirmou que não queria que a morte de sua mulher se tornasse um "espetáculo político".

Ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, Jaques Wagner (PT), que acompanhou a visita de Temer a Lula na quinta, afirmou que não se pode "propagar intolerância" e que, naquele momento, houve "gestos de solidariedade".