Quando chegou à casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), às 22h52 desta quarta-feira (15), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ainda não tinha se acalmado.

Pouco antes de decidir ir à festa junina organizada pela ex-ministra da Agricultura, o peemedebista se reuniu com os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Eduardo Braga (PMDB) e deu um recado claro: "Vou defender o Senado como instituição. Não vou aceitar excessos nem constrangimentos".

Ele falava do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a prisão de caciques do PMDB, como o senador Romero Jucá (RR), o ex-presidente José Sarney (AP) e o próprio presidente do Senado. Na casa de Eunício, os três tentavam alinhar uma estratégia para que Renan se posicione sem "se apequenar" diante do Ministério Público Federal.

Apesar da tentativa de acalmar os ânimos, Renan chegou à festa agitado, com o celular nas mãos. Na tela, apontava a aliados uma reportagem em que se lia: "Manutenção de sigilo em delação geraria crise entre os Poderes, diz Janot". O presidente do Senado pensava exatamente o contrário, mas foi se acalmando aos poucos.

Perto das 23h, sentou-se à mesa com a anfitriã, Eunício Oliveira e Eduardo Braga. Serviu-se de uísque e logo viu colegas de Senado começarem a puxar as cadeiras e juntarem-se a ele. Eram parlamentares do PT e do PC do B.

Abraçou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) efusivamente e conversou por alguns minutos em particular com Jorge Viana (PT-AC), um dos principais aliados da presidente afastada Dilma Rousseff. Voltou a se sentar e, dessa vez, não se levantou mais.
"Renan é assim. Ele conversa com todo mundo, é envolvente, não tem jeito", murmurou Lindbergh. E foi assim madrugada adentro.

Em uma das mesas montadas no jardim da casa de Kátia Abreu, em Brasília, o presidente do Senado era o centro das atenções inclusive do ex-assessor especial de Dilma Anderson Dorneles, um dos participantes da festa. Em viagem a Paraíba, a petista -que se tornou amiga próxima de sua ex-ministra- não compareceu.

Entre os colegas de Congresso, um dos principais comentários durante a festa foi o discurso que Renan tinha feito no plenário do Senado na tarde desta quarta. Ele chamou de "esdrúxulos" os pedidos de prisão que Janot fez contra a cúpula do PMDB.

Kátia Abreu, por sua vez, tentava, descontraída, trocar de assunto sempre que senadores do PMDB e do PT discutiam o governo interino de Michel Temer na frente de Renan.

"Tiririca sabe cantar forró em árabe, vocês sabiam? Claro que ele não sabe falar uma palavra em árabe, mas é ótimo. Canta, Tiririca", disse a senadora.

Do palco, o deputado obedeceu. "Mas isso não é forró, é baião", sentenciou Eunício.