O cientista político e professor do Insper, Carlos Melo, disse nesta segunda-feira, 7, que a queda de popularidade da presidente da República, Dilma Rousseff (PT), não é surpresa, é uma reação consistente e coerente.

"Tivemos uma grande reversão de expectativas. O governo Dilma foi de menor desenvolvimento e avanço da inflação. Claro, portanto, que a popularidade vai cair. A queda da popularidade da presidente não provocada pela CPI da Petrobras, não foram todas as 'barbeiragens' dos últimos 30 dias. É um processo consistente de piora de expectativa para o Brasil. Já estava na consciência de setores e vai se expandindo", declarou ele, em sua apresentação na 2ª Conferência do Agronegócio, promovida pelo Espírito Santo Investment Bank, em São Paulo.

Para ele, as reações em relação à imagem da presidente são consequências de problemas ideológicos e culturais e também de problemas estruturais da política nacional. Ele citou a falta de lideranças e da não-renovação da máquina política. Na mais recente pesquisa sobre as eleições presidenciais, divulgada pelo DataFolha no último sábado, a presidente Dilma perdeu 6 pontos porcentuais e aparece com 38% das intenções de voto. O cenário com os partidos nanicos mostra, ainda, Aécio Neves (PSDB) com 16% e Eduardo Campos (PSB) com 10%.

Melo também comentou que se houver um segundo turno nas eleições presidenciais deste ano, será "um grande problema" para Dilma, sobretudo se houver uma consolidação de um bloco antigovernista. "O primeiro turno já será muito disputado. Se Dilma ganhar no primeiro turno vai ser por diferença mínima. Já com segundo turno, as eleições serão mais dramáticas, emocionantes de se observar. O jogo vai ser mais pesado", ressaltou.

O professor projetou cenários para 2015, considerando a eleição de cada um dos presidenciáveis. Com Dilma, segundo ele, os ajustes políticos e econômicos serão moderados e não serão tão simples. "Piora num primeiro momento, para depois melhorar. Não é verdade que Lula é tutor de Dilma. Ela tem se mostrado zelosa de seu poder. E os ajustes serão moderados, porque terá poucos instrumentos para pressionar o Congresso. Pode haver mudança, mas não será tão simples. Teremos de acompanhar, vai ser no dia a dia", disse.

Com Aécio, Melo explicou que a alternância por si, já melhora o presidencialismo de coalizão. "Há chances de que o primeiro ano de Aécio seja de 'lua de mel'. E ele tem melhores condições de dar encaminhamentos aos ajustes", declarou. O professor acrescentou que a agenda de Aécio será mais previsível, mas pode haver um recrudescimento de conflitos, pois a oposição, depois de anos no poder, estará mais forte.

Já com Campos, conforme o especialista, pode haver uma conciliação maior. "Vamos ver se Eduardo Campos é o político pragmático e aglutinador que ele está apregoando nas campanhas. O teste será durante o processo eleitoral", destacou. "Aécio e Campos devem crescer em cima do desgaste do governo. Entretanto, pesquisas são uma fotografia. Para olhar a política é necessário olhar para o filme inteiro", completou.