Durante pouco mais de uma semana uma parte do mundo voltou seus olhos para homens, mulheres, crianças e idosos de tribos, etnias ou povos - se refiram a eles como quiserem - que despertaram em nós, homens brancos, a curiosidade sobre o seu modo de vida, tradições, costumes e a influência da globalização. Palmas, cidade-sede da primeira - e histórica - edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, foi o ponto de encontro desses povos e palco dessa união de etnias - muitos não se conheciam e até mesmo nem sabiam da existência de outros povos. Mas, juntas, mostraram ao mundo que existem. Mas, com o fim dos Jogos, ficam perguntas.

Como ficará a vida desses homens, mulheres, idosos e crianças que neste período conviveram conosco, gentilmente posaram para fotos e até nos emprestaram seus adereços para que pudéssemos, pelo menos nas imagens que lotaram as redes sociais, nos tornar indígenas também?

E mais: Além de medalhas e dinheiro da venda de seus artesanatos, o que eles ganharam com os Jogos?

Começo pela segunda questão. Os indígenas ganharam muito com a relação entre si, é inegável. Porém, perderam a oportunidade de terem sido ouvidos pelo mundo sobre os flagelos que os acometem. É exagero dizer que pregaram no deserto, mas não conseguiram chamar a atenção de nós, homens brancos, por exemplo, sobre uma de suas principais bandeiras apresentadas nos Jogos: o “NÃO” à PEC 215. Em pleno Jogos, no Brasil, a Comissão Especial Câmara aprovou o texto da PEC. Uma grande derrota dos indígenas.

Já as respostas da primeira pergunta saberemos apenas se as tribos não forem novamente esquecidas. Para isso é preciso que as imagens de cores vibrantes, da beleza encantadora dos indígenas e os flagrantes da cultura e modalidades esportivas captadas por câmeras de todo o mundo, a partir de agora, sejam contrastadas com a realidade de onde vivem.

É fato que as cenas de pôr-do-sol com índios à frente, empunhando suas lanças ou arco e flecha feitas para encerrar reportagens ou programas de televisão, devem dar espaço às condições de moradia, de saúde, de educação desses povos. Como é, de fato, a realidade nua e crua, a vida dessa gente “alegre, simples que exibiu suas pinturas, os adereços de suas fantasias e até telefones celulares durante os Jogos”?, como nos referimos a eles nesse período.

Não esperem do relapso poder público essa atenção, que não é dada nem mesmo ao homem branco, que implora (e não tem) dignamente saúde, segurança e educação. Mais uma vez, a voz desses povos devem ecoar por meio dos meios de comunicação, que têm o dever com a sociedade - e os indígenas são da sociedade (não são animais que servem apenas para tirar fotos ou nos maravilhar com seus cânticos ou gritos de guerra). E esse papel não é apenas da mídia que cobriu o evento com a intensidade que se esperava, mas de todos.

O conhecimento desse mundo é vital até mesmo para nós cobrá-los ou criticá-los se necessário for, mas com conhecimento de causa, não apenas por meio de estereótipos bastante difundidos.

Portanto, este é um dos legados imateriais que ficam neste espaço é abordado por uma pessoa que, como muitos, não é ligada a causas indígenas, mas aprendeu com o pequeno contato com as comunidades nesta semana que os parentes (como as etnias se referem entre si) precisam ser vistos não apenas no momento de se deixarem fotografar ou quando heroicamente correm com toras de 100 quilos nas costas, mas constantemente, pois representam nossas verdadeiras origens.