Já dizia Mario Vargas Llosa, no excerto da obra A civilização do espetáculo, que a alienação - ilusão da mentira convertida em verdade - monopolizara a vida social contemporânea, transformando-a numa representação em que tudo o que é espontâneo, autêntico e genuíno - a verdade do humano - foi substituído pelo artificial e pelo falso. Faço esse pequeno prefácio, para subsidiar minhas posições acerca da forma avassaladora - e alienada - de como vendo sendo conduzida as discussões sobre a reforma política no Brasil. Ater-me-ei a um ponto fundamental: o financiamento das campanhas eleitorais.

Atualmente, utilizamos o sistema misto para financiar as campanhas eleitorais no Brasil, sendo parte dos recursos de origem pública (via, principalmente fundo partidário) e parte privada - através da participação de pessoas físicas e/ou jurídicas. Aqueles que são contra o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais (entre os quais não me incluo) advogam que a adoção dessa medida exigiria da população o custeio de mais um despesa, entre as já milhares financiadas pela nossa sociedade. Primeiro: já o fazemos mediante o dinheiro do fundo partidário e os valores pagos às emissoras para veicular as propagandas eleitorais (segundo a lei Nº 9.096/1195 “as emissoras de rádio e televisão terão direito à compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta lei”. Dados da receita federal, relativos às eleições de 2010, revelam que a compensação fiscal dada às emissoras de rádio e TV pela veiculação da propaganda eleitoral, somente no ano de 2010, somou R$ 850 milhões). Então, da próxima vez que você ouvir a expressão horário eleitoral “gratuito”, não se iluda: não é bem assim.

Segundo, há que levar em conta os inúmeros “pagamentos” que são feitos aos financiadores de campanha (conforme revelou as investigações da operação lava- jato, antes de financiadores de campanhas, as pessoas, físicas ou jurídicas, que fazem “doação” de recursos para campanhas eleitorais, fazem, na verdade, investimentos, e, diga-se de passagem, investimentos bem rentáveis). Assim, para fazermos um cálculo mais fidedigno, teríamos que cruzar os dados das “doações” das campanhas eleitorais com os valores recebidos por esses “doadores” via instâncias governamentais - Federal, Estadual e Municipal - seja via pagamentos por serviços prestados, seja via incentivos fiscais ou qualquer outra forma de dispêndio público. De posse desses dados, poderíamos “descobrir” que a adoção do financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais são seria “tão ruim”, quando o querem descrever.

Em suma, vivemos o tempo da modernidade líquida (Bauman), onde “tudo que é sólido se desmancha do ar”. Esses tempos caracterizam-se pela efemeridade dos acontecimentos, pelas análises supérfluas e superficiais da realidade, em que nos deixamos levar pela aparência ao invés de descobrir a essência das coisas. Que sejamos mais cautelosos e profundos em nossas análises e que as facilidades trazidas pela tecnologia nos auxiliam a analisar os acontecimentos com a profundidade que os caracteriza. Vamos sair da caverna e caminhar para o real, diferenciar a essência da aparência.