Apagão, palavra maldita que todo político detesta, pois traz um desgaste danado junto à sociedade. Esse fantasma volta a estar muito presente entre nós. Está aceso o sinal de alerta: nunca foi tão grande a probabilidade de o país enfrentar o perigo do racionamento de energia como agora. Um bom indicador para esse alerta é o considerável e necessário acionamento de usinas térmicas para o atendimento da demanda aliado à considerável expansão do risco de racionamento.

Em sua edição de janeiro de 2015, a revista Brasil Energia quantifica que de janeiro a dezembro de 2014 a situação de risco elevou-se de 2% para 11,1%, enquanto que o avanço térmico, nesse mesmo período, foi algo em torno de 7,6%. Detalhe: tradicionalmente, o setor elétrico reconhece como admissível em seu planejamento um risco de deficit da ordem de 5%. Portanto, vive-se, hoje, no país, um risco de deficit que ultrapassa o dobro do normalmente admitido. A sinalização do perigo de racionamento é evidente em função da dificuldade de geração de energia hidráulica (que depende das chuvas). Por essa razão, o uso de usinas termoelétricas vem sendo cada vez mais necessário. Não é preciso lembrar que o custo operacional do acionamento de usinas termoelétricas chega a ser 10 vezes superior ao custo de geração via usinas hidroelétricas. No tocante ao uso das usinas termoelétricas, vale aqui uma observação que faz toda a diferença: elas sempre foram usadas de uma forma complementar para atender nos horários de maior congestionamento do sistema elétrico (das 18h às 21h), sendo desligadas fora desses horários. Com o atraso das usinas hidroelétricas que não entraram no sistema, as termoelétricas passaram a funcionar a plena carga nas 24 horas do dia. Resultado: o preço a pagar vai para quem sempre arca com a conta - os consumidores. Consumidores que verão suas contas de energia elétrica elevarem-se substancialmente este ano, em que o ajuste fiscal não permitirá ao Tesouro que aporte recursos para que as distribuidoras mantenham as tarifas mais acessíveis. “Os indícios não deixam dúvidas de que a conta da crise hidrológica, já estimada entre R$60 bilhões e R$ 100bilhões, terá o acréscimo de mais alguns bilhões”, atesta a Brasil Energia. Contas salgadas e riscos elevadíssimos de apagão. O céu não é de brigadeiro para o setor elétrico brasileiro. Menos energia, menos crescimento econômico. E isso significa minar as bases da competitividade industrial. Não tenham dúvidas de que, faça chuva ou faça sol, as térmicas continuarão ligadas por um bom tempo até que as usinas hidroelétricas ainda não construídas entrem no sistema. Preparem o bolso e tratem de mudar seus hábitos no uso da eletricidade. Para os consumidores residenciais é sempre bom ressaltar para tomar banhos menos demorados, abrir menos a geladeira, usar racionalmente o ar condicionado e passar a roupa de uma vez só, pois são medidas que ajudam no gerenciamento pelo lado da demanda e, lógico, a ter contas menos salgadas no final do mês.

Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, do livro Tarifas e a Demanda de Energia Elétrica.
E-mail: salatielcorreia1@hotmail.com