Eis-nos no último dia do ano civil. Dentro de poucas horas ele desaparecerá e será para sempre passado na nossa existência. Serão 365 dias escoados na ampulheta do tempo. Só no resta, nesta virada do ano, em perspectivas para o ano vindouro, o augúrio contagiante e rotineiro: “Feliz Ano Novo!”

A propósito, nossa pátria amada encerra-se o ano sob os escombros, causados pelos fatídicos desmandos políticos e econômicos, para não falar de outras instituições, como os barões do futebol (entenda-se FIFA), imergindo o país numa profunda e desventura crise, sobretudo a econômica, gerando, inevitável e lamentavelmente, incertezas e apreensões nefastas à população brasileira quanto ao ano vindouro – 2016.

Para a grande maioria da população, as incertezas e apreensões se dão, sobretudo, no universo da sobrevivência e da auto-sustentação, reveladas nas angustiantes e onipresentes perguntas: - como vamos pagar supermercado, água, luz, escola, entre outros; já para os mais abastados que, indecorosamente é a pequena minoria, a preocupação é como manter incólume seus vultosos capitais, que, não raro, diga-se de passagem, são auferidos a troco de pilantragens, corrupção e do suor de muitos párias da sociedade.

Voltemos ao augúrio de Feliz ano novo. O que fazer para que este desejo de felicidade no ano novo não seja apenas um mero formalismo, palavra oca, efêmera e sem consistência? Penso que os brasileiros precisam adotar uma nova postura diante de alguns aspectos da compreensão do universo político e religioso, por exemplo.

Lembra da máxima: “o futuro a Deus pertence?”. Incontáveis são as vezes que comprometemos Deus nesta ligeira expressão. Para os crentes em Deus não resta dúvidas de que o futuro a Deus pertence, porém, isso não passa de uma meia verdade, pois confiarmos a Deus as responsabilidades do mundo enquanto nós ficamos contemplando as estrelas do céu, além de ser uma oração iníqua, é também determinismo religioso. Ou nas palavras do saudoso Padre Libânio: “É alienação apelar-se à providencia divina, a ação de Deus para explicação de acontecimentos humanos, históricos e não se ir à trama das vontades e liberdades humanas”. O mesmo Libânio acrescenta: “É voluntarismo político” pensar que a realidade social é o que queremos e não a trama objetiva dos jogos sociais e políticos”.

Não raro também se atribui ao tempo as grandes soluções do país, como se dissesse: “o tempo se encarregará de tudo...”; também aqui se trata de uma meia verdade. Pois, no pensamento do professor Juvenal Arduini, “a questão fundamental não é perguntar o que o tempo nos trará. A questão vital é definir o que a humanidade irá construir. Não basta assistir ao desfile do tempo. Há que agir ousadamente. Não é o tempo que define o rumo da vida. É o ser humano que planeja e conduz a existência, bem ou mal”. E conclui o professor: “E as soluções não serão fornecidas pela cronologia, pois a humanidade pode varar séculos e continuar sendo devorada pela miséria. A solução terá de vir de pessoas, de grupos e povos que decidam lutar para que as sociedades sejam redefinidas, replanejadas e recriadas. Se o tempo plasmasse a humanidade, os habitantes da mesma seriam todos iguais”.

Portanto, atribuir as melhorias dos acontecimentos históricos e das situações sociais, ou seja, transferir ao tempo o que é produzido pela humanidade além de ser alienação é fuga do presente, leva ao fatalismo cronológico: leva acreditar que o tempo traça o destino humano, à revelia da ação humana.

Um pensador, que não me recordo o nome, deixou dito que desde o Brasil colônia, a sociedade brasileira convive com duas pragas que minam suas estruturas sociais e políticas, e que precisam ser desinsetizadas: a praga da corrupção e da ignorância. Haveremos de concordar com tal afirmação, pois nossa população vem sendo cronicamente enganada, eleitoralmente manipulada, mentalmente colonizada, socialmente espoliada, culturalmente banalizado, e até religiosamente enganado.

O tempo, como se vê depois de mais de quinhentos anos, não foi suficiente sozinho para barrar a avalanche descontrolada de maldades... e, quanto a Deus, parece não desejar por as coisas em ordem sem nossa cooperação, pois Ele prefere fazer-ser nosso aliado número um e nunca nosso suplente.

Finalmente, nem tudo depende do tempo e nem de Deus. Porém tudo depende de nossa ação, conjunta com a ação Deus... Bento XVI dizia: “Embora a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política, a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça”.

Então, Feliz Ano Novo! (com justiça social e paz).

Pe. Dejoce Vanderley Adorno é escritor e pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Barrolândia.
E-mail: vanderleyxto@hotmail.com