Para onde foram os adolescentes e jovens que participaram das manifestações no ano passado? Aquele “banho” de cidadania, assistido em praticamente todas as cidades do país, relembrando bons momentos como o das “Diretas Já” e dos “Caras Pintadas”, não está sendo visto neste período eleitoral. E a pergunta é: por que aqueles que se sentiram protagonistas do Brasil, indo às ruas, não assumem o lugar de destaque neste momento importante, a hora do voto?

Tal desinteresse se observa em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que apontam que dos 142,8 milhões de brasileiros que vão votar nas eleições deste ano, 1,6 milhão têm 16 ou 17 anos, o que representa 1,1% do total. Este percentual é o mais baixo apresentado no Brasil em 20 anos. Nesta faixa etária, só 26% dos que estavam habilitados foram até os cartórios eleitorais no prazo determinado e tiraram seu título de eleitor para votar em outubro para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. O índice está abaixo da média das três últimas eleições presidenciais (2002, 2006 e 2010), entre 36% e 37%, e consegue ser bem pior que o do último pleito para pre feito, há dois anos, que foi de aproximadamente 43% (dados do Jornal O Estado de São Paulo).

Não acredito que esse fraco resultado possa ser colocado na conta da desinformação. A moçada está super antenada! Também me recuso a dar trela àquela história de inconsequência juvenil, de falta de maturidade etc. Então, direciono a reflexão para uma hipótese grave: o “total” descrédito ou desconfiança do jovem para com as atuais instituições, para com o “sistema”.

Reunido, agora em agosto, com jovens do Projeto Geração Nova - Progen, do Núcleo de Desenvolvimento Social da Fundação João Paulo II / Canção Nova, vi claramente esta “rusga”, este descontentamento com a política atual. Não se reconhece aqueles que, inclusive, tentam passar a imagem de “pais” das manifestações do ano passado.

A moçada questiona, por exemplo, a falta de resposta às pautas apresentadas nas ruas (cadê a Reforma Política?). Vejo aí a razão de muito desta apatia, da verdadeira aversão à lenga-lenga desfilada por partidos e candidatos, especialmente na propaganda na TV. E vejo, também, um risco maior: incluir na decepção a democracia, não enxergando conquistas alcançadas, rejeitando não só os participantes, quanto o “jogo”.

Temo - não sei se você me entende? - que o sonho das ruas, de justiça e igualdade, ao se desvincular da nossa maior ação política, o voto, se perca entre o vazio da desmobilização e o fanatismo do radicalismo, do extremismo inconsequente. Remédio? Aproximar o jovem da eleição, demonstrando que a “maçã não está toda podre”. Há boas ideias, sementes, que só com apoios podem vingar. Sei que o nível de muitos candidatos não ajuda; que o histórico não ajuda. Mas, na ausência de opções, vai se desperdiçar quatro anos?

Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor do livro “Ternura de Deus” pela Editora Canção Nova e editor da Revista Canção Nova. Membro da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA) em Cachoeira Paulista/SP.
E-mail: imprensa1@cancaonova.com (Assessoria)