Quem frequenta o Parque dos Povos Indígenas, esse presente que a região norte de Palmas ganhou recentemente, já deve ter se deparado com uma cena bastante comum de exercício de cidadania cujas protagonistas são duas moradoras das imediações do nosso pequeno pedaço do céu. Não. Não é exagero! Quem conheceu a antiga Praça da árvore há de compartilhar da mesma metáfora que eu. 

Enfim, voltemos à matéria desse texto. As duas protagonistas. O que há de especial nelas? Em que consiste esse protagonismo? Conto-lhes agora.

Não sei o nome delas, mas sei que uma mora na 304 norte e que a outra mora em frente ao Parque. Também sei que esta tem um filho, um rapaz simpático  que a acompanha, de vez em quando, no seu exercício matinal de cidadania.

Então... Essas duas jovens senhoras assumiram, generosa e lindamente, o cuidado com as plantas recém-plantadas à época da criação do Parque.

Exatamente isso. A da 304 vinha cedinho de lá com garrafas pet abastecidas de água e ia molhando fartamente planta a planta. De vez em quando, pacientemente, tinha de prestar socorro a algumas que, impiedosamente, foram "feridas" ou até mesmo arrancadas por algum pedestre ou ciclista, insensível, desatento ou maldoso mesmo. 

Que frequentador do Parque ainda não viu, na pista de caminhada, diversas pequenas árvores amarradas a um pedaço de pau, feito de escora, para sustentar a indefesa vítima? Pois é, cuidado e zelo da nossa invejável e grata cidadã da 304 norte. Posso afirmar com toda convicção que muitas das lindas árvores que hoje vemos florir e embelezar a pista de caminhada só sobreviveram devido ao insistente cuidado do nosso anjo anônimo. Sim, ela também fazia sua atividade física ali. Trocávamos algumas palavras quando nos encontrávamos. Partilhamos a ansiedade de ver a pista toda completa, a grama plantada nos espaços destinados a ela, o mato, que invadia a pista, roçado, mas não tive o cuidado de lhe perguntar o seu nome. Não era o essencial. Talvez fosse por isso. 

O fato é que já faz um tempinho que não a vejo. Nossos horários não se coincidem mais, porém, nesta semana, percebi que ela continua a frequentar o Parque e a cumprir com a sua missão. Por quê? É só olhar para o tronco de algumas pequenas árvores e perceber que há nele um sistema de gotejamento feito com garrafa pet. Quem o teria instalado ali? Não tenho dúvida: foi o anjo da 304.

É lindo ver a gratuidade com que nossa protagonista, mesmo no anonimato, ou talvez por isso, é luz para nós.

Em contrapartida, garrafas de vidro de cerveja, copos descartáveis, máscaras, cascas de fruta e até (pasmem!) capacete, na pista ou próximos a ela, nos fazem lembrar de que ainda é necessário um despertar de senso de coletividade e de co-responsabilidade na vivência social. A premissa de que devemos viver a unidade na diversidade exige de cada um desprendimento de pré - conceitos e valores já definidos e arraigados no nosso meio, no nosso modo de agir e de pensar. 

Isso não é problema para nossa outra protagonista que, muitas vezes, com a ajuda do jovem filho, atravessava a avenida com um balde e ia, na sua rotina, molhar as plantas de pequeno porte da parte interna do Parque. Ali também, ela exercia a sua maternidade, a sua paciência, a sua cidadania. O Parque era, visivelmente, a extensão da sua casa. A naturalidade com que cuidava das plantas era impressionante. Também não sei o nome dela, mas de tanto acompanhar aquela rotina, já me sentia pertencente à história de vida dela ou o contrário. Trocamos algumas palavras quando nos exercitávamos na academia do Parque. Gentilezas. O suficiente para sentir a leveza de espírito daquela senhora. 

Diante de tudo isso, fica o aprendizado de que, independentemente, do contexto, da realidade vivida, vale a pena ser bom, vale a pena pensar e agir levando em consideração o coletivo, o conjunto, sem ignorar as particularidades. Que assim como as boas ações podem gerar frutos agradáveis a todos, o inverso também é possível. Que o cocô do meu cachorro, não recolhido do espaço público, revela entre outras coisas a minha incivilidade e o meu egoísmo. 

Então, convido você a rever e a repensar suas atitudes, refletindo sobre qual tipo de ser humano tem se revelado para si mesmo e para o outro.