“[O presidente Getúlio Vargas] desembarcou do avião seguido por um pequeno cortejo. Iam com ele [entre outros] o irmão Bejo Vargas; o interventor de Goiás Pedro Ludovico Teixeira, o capitão Manoel dos Anjos; e o chefe da, então recém-criada, Comissão de Defesa da Economia Nacional, João Alberto.

A viagem de Getúlio ao Araguaia fazia parte de uma grande campanha oficial batizada de ‘Marcha para o Oeste’. O objetivo era promover a ocupação da colonização intensiva, primeiro passo da ‘arcada de progresso rumo à região amazônica. O projeto envolvia programas de incentivo à migração interna, criação de colônias agrícolas, construção de rodovias e estímulo à produção agropecuária. A própria construção da cidade de Goiânia — então apenas um enorme canteiro de obras, localizado a 580 quilômetros em linha reta dali — estava inserida nesse processo de povoar os ‘enormes vazios demográficos’ e levar a civilização ao sertão primitivo e atrasado.”

O texto acima foi extraído do segundo livro de uma trilogia que vem escrevendo o jornalista  Lira Neto a respeito da maior figura política do Brasil republicano: Getúlio Vargas. No excerto, o autor relata a vinda de Getúlio Vargas à Ilha do Bananal para, com sua presença, dar visibilidade nacional à Marcha para o Oeste como política de seu governo.

Getúlio permaneceu por dois dias no meio dos índios, juntamente com toda a sua comitiva. O episódio teve, na época, ampla divulgação do órgão de propaganda do governo – o poderoso Departamento de Imprensa (DIP) – que transmitia, a partir da então capital federal, Rio de Janeiro, as notícias a serem irradiadas para todo o país.

No entender da raposa dos pampas, a Marcha para o Oeste trazia consigo uma promessa de futuro. “Lá [no oeste] teremos de ir buscar, dos vales férteis e vastos, o produto das culturas variadas e fartas; das entranhas da terra, o metal com que forjar os instrumentos de nossa defesa e de nosso progresso industrial.”

Passados oitenta anos dessa epopeia, os sonhos da Marcha para o Oeste transformaram-se em realidade. Essa iniciativa do governo getulista possibilitou, em verdade, a construção do que conhecemos como sendo um Goiás moderno. Inseriu nos centros mais dinâmicos do país esse pedaço de Brasil até então esquecido.

Goiânia, que completou 80 anos, é uma das faces mais representativas da saga do que veio a ser esse movimento do getulismo para levar o desenvolvimento ao interior do país. Tudo o que veio depois – a construção de Brasília, a rodovia Belém-Brasília, principal eixo estruturante que interliga o país à região norte, e até a ainda recente criação do estado do Tocantins – teve uma origem comum: a Marcha para o Oeste.

Este Goiás que hoje conhecemos foi um estado inventado pelo “getulismo” e  o “juscelinismo”. O velho Pedro Ludovico teve lá seus méritos, mas como um ator coadjuvante de respeito. Foi um seguidor fiel de Getúlio e Juscelino, estes, sim, os verdadeiros protagonistas da inserção do Planalto Central nos ventos da modernidade que começaram a soprar no país depois da Revolução de 1930.

Salatiel Soares Correia
é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas. Mestre em Planejamento. É autor, entre outros, do livro A construção de Goiás.