Nestes dias em que a temperatura cai no Sul do país com a antecipação da neve, portais na Capital informam com ar de seriedade e ancorados em informação de órgãos técnicos que haveriam poucas possibilidades da massa polar dar as caras por aqui. 

A informação é levada a sério por ser verdade como sempre o foi acima do Paralelo 13 já quase coladinho na linha do Equador onde o sol incide na sua maior expressão. 

Mas as pessoas se surpreendem e não faltam as avaliações acessórias o atribuindo a consequências do efeito estufa. E tome pau nas redes sociais.

Paralelamente o governo celebrou nas mesmas redes sociais a elevação do emprego no Estado como divulgado pelo IBGE na Pnad trimestral. 

Num cenário de juros elevados, os mais caros o planeta, inflação alta e meio milhão da PEA do Tocantins desocupada é mesmo um indicador considerável.

O dado, entretanto, reflete mais as relações privadas de mercado e consumo do que resultado de ações públicas que tem investido em obras (que geram emprego) menos de 5% do orçamento anual. 

A não ser que contabilize como predominante nas estatísticas os contratados na máquina pública sem concurso, - no que revelaria um desvio - os 35% aplicados do montante previsto para investimentos anuais espelhariam indiscutivelmente sua participação ínfima  na ocupação de mão de obra.

E Palmas comemora com show do serto-brega Leo Santana (e concerto com artistas regionais) na Praça dos Girassóis na sexta seus 33 anos de criação (32 de instalação).  Diz-se de R$ 400 mil o custo público da programação.

O concerto dos artistas do Estado deixa o Theatro Fernanda Montenegro – onde usualmente é realizado - e vai para a praça porque o Espaço Cultural (um monumento icônico da história da cidade) estará ocupado, no mesmo dia, com uma feira privada de lojas de arquitetura e decoração de imóveis destinada a pessoas de classe alta de renda.

Talvez aí uma régua social evidenciando que numa cidade onde algo próximo de 70 mil pessoas (17 mil e 179 famílias/Ministério da Cidadania) estão na extrema pobreza (menos de R$ 90 per capita por mês) e outras 27 mil (6 mil e 974 famílias) na pobreza (R$ 10 per capita diários) não teriam por que ocupar o traseiro num teatro com ar condicionado nestes dias de frio incerto.

Justapondo a estatística ao pibão de R$ 10,4 bilhões que a Capital reúne (pib per capita de R$ 34 mil anuais e R$ 2,8 mil mensais) na divisão do resultado de sua economia pelo número de moradores, é nítido um exército de famélicos circundando uma minoria de novos ricos. Muitos alimentados pela carga tributária da turma dos R$ 10; 

Mas a cidade que vi nascer e crescer cada um dos seus dias, da poeira ao asfalto, de rua escuras a essa maravilha de cenário, conhecendo de perto as vontades políticas que a delinearam, encosta mais anos com um pouco mais de 300 mil moradores, contrariando seu planejamento que apontava 500 mil habitantes em quinze anos.

O ufanismo da criação e a permanência dos “orêa seca” na cidade estão a gritar que não é Palmas, para a maioria, aquele eldorado sonhado. Na hora H só a praça é do povo. E que contrariedade de metas não é privilégio apenas de estudos estatísticos com fins determinados.