Desde que iniciei meu trabalho de programação na sala de cinema, como parte da equipe gestora de cinema e audiovisual da Fundação Cultural de Palmas, em 2012, no Cine Cultura Sala Sinhozinho, entendi a importância da ida a mostras e festivais de cinema pelo Brasil e principalmente o valor cultural dos filmes exibidos. 

Nossa equipe já teve a alegria de exibir em Palmas, filmes premiados no Festival de Gramado, como “O primeiro dia de um ano qualquer”, de Domingos Oliveira (2012); “A Despedida”, do diretor Marcelo Galvão (2014); “Aquarius”, do diretor Kleber Mendonça Filho (2016); “Pacarrete”, de Allan Deberton.

Desde então nos dedicamos a participar deste que é considerado um dos festivais mais midiáticos do país e que em 2023 completa 51ª edições. E o mais importante, sem interrupção. 

Neste contexto, é importante mencionar que o festival é também uma das mais importantes janelas de exibição de conteúdos audiovisuais, que a partir da sua 20ª edição, em 1992, inclui não apenas filmes brasileiros, mas também produções de origem latina. Gramado é uma vitrine para aqueles que são apaixonados pelo cinema nacional, que programam salas de cinema ou são entusiastas do cinema brasileiro. Afinal, é a partir do festival, realizado no mês de agosto, que o calendário cinematográfico nacional é aberto, sendo, por isso, uma espécie de termômetro.

De forma cronológica menciono alguns dos festivais que não deixo de acompanhar:  Mostra de Cinema de Tiradentes (janeiro), Festival de Cinema de Gramado (agosto), Festival Internacional do Rio (outubro) e Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (novembro). Muitas pessoas me perguntam por que é tão importante para um filme, para a equipe de um curta ou longa-metragem ser selecionado no Festival de Cinema de Gramado.

Veja só, festivais de cinema são eventos que têm como principal objetivo disseminar as obras cinematográficas e reunir cinematografias e mercados. 

Cada vez que um filme brasileiro é selecionado em um festival, uma vitória coletiva é celebrada, dos produtores e dos que fizeram parte da produção. É o momento que toda a equipe do filme recebe a resposta do público em relação ao projeto que foi produzido. Sem falar que os laureis engrandecem o cartaz do filme, é uma espécie de certificado sobre o quanto um filme é especial e sua qualidade notória.

Aproveito para mencionar que o Tocantins tem muito a celebrar.

Estamos em festa pela seleção do filme “O Barulho da Noite”, da cineasta Eva Pereira, que terá sua estreia na janela Festival de Gramado no dia 15 de agosto, no Palácio dos Festivais.

O que mais me alegra é a certeza da potência do filme. Mais que isso, preciso mencionar que essa é a primeira vez que um longa-metragem tocantinense entra na seleção oficial do festival, tendo concorrido com mais de 300 filmes para então chegar à seleção.

Quem produz filmes no Brasil, sabe a grandeza da seleção, e quão significativa é para a Região Norte ter um filme selecionado em um dos mais importantes festivais de cinema no país.

Para quem não conhece a diretora Eva Pereira, ela é cria do Tocantins! É uma cineasta tocantinense, de Miracema, que atua há mais de 20 anos na área de produção, roteiro e direção de filmes publicitários, institucionais, programas políticos e séries. Já ganhou vários prêmios como roteirista.

Ver o filme “O Barulho da Noite” na programação das mostras competitivas em longa-metragem é uma vitória para o Estado do Tocantins e isso nos posiciona mais forte junto ao cinema nacional. Lembro que foram poucos filmes selecionados em outros festivais pelo país, em seus 30 e poucos anos de produção tocantinense, e só agora conseguimos entrar na seleção oficial. 

Lembrando que em 2022, o longa “Noites Alienígenas”, do diretor Sérgio de Carvalho, saiu do festival com cinco prêmios Kikitos, além de uma menção honrosa e foi a primeira vez, em 50 anos, que uma produção do Acre ganhou o principal prêmio em Gramado, o de Melhor Filme.

Além desse, também levou os Kikitos de Melhor Ator (Gabriel Knoxx) e Melhor Atriz Coadjuvante (Joana Gatis). Ainda nesta qualidade de safras inéditas do Norte e Nordeste, o filme alagoano “Trincheira”, do diretor Paulo Silver, teve presença confirmada na mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros, dentro da programação do 48º Festival de Gramado. Ou seja, raríssimas vezes estados como Acre, Alagoas e Tocantins tiveram filmes nas seleções do Festival de Cinema de Gramado.

Neste sentido, fico na torcida para que o potente “O Barulho da Noite” escreva um novo ciclo de grandes realizações para as produtoras MZN Filmes e Cunhã Porã Filmes, e a coprodutora, Bananeira Filmes. E como programadora, fico a contar os dias, em que “O Barulho da Noite”, entre no parque exibidor e principalmente na programação do Cine Cultura Sala Sinhozinho.

Elisângela Dantas
graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. É programadora e curadora do Cine Cultura Palmas.