Todos nós vivemos os dilemas de estar sempre escolhendo. Quem já não se defrontou com dúvidas como “trabalhar ou estudar?”, “casar ou não casar?”, “ter ou não ter filhos?”, “que profissão devo seguir?”, “gastar agora vivendo a vida ou poupar para enfrentar a velhice?” As incertezas da vida podem ser resumidas na famosa frase do dramaturgo inglês William Sheakespeare: “ser ou não ser?”.

Inserido nos princípios da dúvida que norteia todo ser humano, o economista e filósofo Eduardo Gianetti da Fonseca, célebre pelos belos ensaios que já publicou – Auto-engano e Felicidade, entre outros – volta a nos brindar com uma nova e mais que oportuna publicação: O Valor do Amanhã. 

Nessa obra, o autor nos ensina o valor das escolhas intertemporais, as quais, de acordo com o professor Gianetti, refletem “o potencial de conflito entre os nossos interesses de curto e longo prazo, isto é, entre o ótimo local (aqui-e-agora) e o ótimo global (o arco da vida como um todo)”. É nesse contexto que se insere o velho dilema de uma das dúvidas que tem o ser humano entre consumir ou poupar. De duas, uma: viver a vida sem se preocupar com o amanhã é uma opção; poupar para a velhice é outra. Eis aí um exemplo de escolha intertemporal.

Os princípios religiosos que mais valorizam o futuro do que o presente são outro exemplo de escolha intertemporal. Motivo: promete-nos o paraíso após a morte. E assim o dilema futuro entre céu e inferno é colocado diante de nós no transcorrer do fluxo da vida. A esse respeito, nos diz o autor que “para os que creem na existência de outra vida após a morte, tal como postulam as principais religiões, a grande questão é saber se chegarão a ela em posição credora (juros a receber) ou devedora (juros a pagar)”.

As reflexões do professor Gianetti evidenciam, assim, dois tipos distintos de perfis humanos, os quais ele define como sendo subestimação e superestimação do futuro: uns sofrem de miopia; outros, de hipermetropia. Estes superestimam as incertezas futuras, renunciando em parte as delícias do presente, enquanto aqueles vivem mais o aqui e agora, pouco se preocupando com as incertezas do que possa vir pela frente.

Não é preciso dizer que o valor do amanhã é uma excelente opção para aqueles que desejam refinar suas reflexões a respeito de si mesmos. Certamente é devido a obras inteligentes e de fácil entendimento como essa que o professor Eduardo Gianetti da Fonseca é hoje um dos autores mais lidos do País. O motivo é mais que evidente: elabora reflexões inserindo a economia numa filosofia simples, didática e que todo mundo entende.     Salatiel Soares Correia é Engenheiro,mestre em energia pela Unicamp. Autor de oito livros relacionados aos temas, energia,política e Literatura.