Ramilla Cavalcante 
é advogada, pós-graduada em Grandes Transformações no Processo e Direito Eleitoral, e docente na Faculdade Serra do Carmo e Faculdade de Palmas.

Desde quando foi decretada a quarentena, com a recomendação de permanecer trabalhando de forma remota nas carreiras adaptáveis a essa realidade, a maior parte da sociedade se viu obrigada a ressignificar o ritmo de vida que vinha levando. Na condição de advogada e professora, perdi a zona de conforto até então experimentada e me vi obrigada a atualizar todo o arsenal de conhecimentos e rotinas para enfrentar o “novo normal”.

Nesse momento de mudanças abruptas, o foco das habilidades profissionais desejadas pelo mercado de trabalho adquiriu especial importância prática. Tomemos como exemplo uma empresa que contava com uma equipe atuando fisicamente em sua sede, cujo líder não conhecia de fato os colaboradores e se viu obrigado a estabelecer a rotina profissional por meios digitais após o surto do coronavírus.

Nos casos em que existia uma comunicação efetiva, com o domínio dos elementos humanos e suas potencialidades, a nova realidade remota não demandou grandes esforços ao líder, permitindo a reinvenção desejada nos protocolos da empresa. Do contrário, muito provavelmente a experiência em questão se tornou um desafio imensurável, por falta do domínio de competências socioemocionais pelo gestor, as chamadas soft skills, definidas pelo psicólogo Daniel Goleman, autor do livro Inteligência Emocional, como traços e comportamentos que caracterizam nossos relacionamentos com outros.

E o que isso tem a ver com a advocacia ou mesmo com a docência? Segundo Paulo Vieira[i], a inteligência emocional é a capacidade de se conectar consigo e tirar o melhor de si, e conectar com os outros e tirar o melhor deles em qualquer situação, resultando em sucesso.

A experiência vivenciada na docência do ensino superior, a partir da inclusão de um momento de dicas no início das aulas abordando conteúdos além do currículo tradicional resultou em perceptível melhoria na convivência humana, que passou a ser mais colaborativa e menos opressora, com um aumento na motivação dos discentes.

No meio jurídico, basta uma análise dos temas que permeiam as lives e congressos online para perceber que assuntos como inovação, criatividade, empreendedorismo, inteligência emocional, gestão da advocacia, direito digital e outros tantos assuntos multidisciplinares se tornaram recorrentes. Nesse cenário atual, para desenvolver uma carreira profissional de sucesso, é necessário criar novas habilidades que não eram exigidas pelo sistema de ensino tradicional.

Em suma, a fórmula de sucesso do mundo corporativo moderno não se esgota no acúmulo de conhecimentos teóricos especializados e títulos sobre a área que se pretende adentrar. No novo normal, saber é menos importante do que estar aberto a continuar aprendendo de forma multidisciplinar, resgatando a aguçada curiosidade da infância (terapia, meditação, cursos e vídeos online[ii] constituem alguns aliados úteis para esse fim na pandemia).

A quebra de paradigmas no mundo corporativo exige o domínio de novas habilidades para um aprimoramento contínuo, estando em alta no mercado as soft skills de colaboração, comunicação eficaz, capacidade de trabalhar sob pressão e se adaptar ao novo, de ouvir e criar soluções coletivas. Se você ainda acredita estar imune a essa realidade, chegou o momento de rever conceitos.