Sobre esse pós-eleitoral e o Lula 3 só vai ser possível marcar alguns pontos. Depois do uso nefasto da máquina estatal, e impressionantemente derrotados, basicamente, o primeiro presidente que não conseguiu ser reeleito vai mobilizar a tropa em um mimimi e chororô que tentará ser interminável. Tentaram de diversas formas criar caos e reverter a opinião geral de que esse governo foi uma delinquência. Tristemente absurdo a PRF fazer blitz com a intenção clara de golpear mais ainda a democracia. 

O papo chato e maçante de procurar e achar culpado não pode ser massificado, e não vai ser, simplesmente porque o Bolsonaro e sua horda devem ser assunto de justiça e, espero, serão colocados e tratados como bichos escrotos que são para não saírem mais dos esgotos.

É verdade também que nada será como antes, e não suponho que tenha como ser, pois a lógica da mentira e de divulgação em larga escala de conteúdo do submundo impõe uma guerra de comunicação muito feroz. O que é ruim, porque pouco afeita dos bons projetos, dos debates e das propostas factíveis. Além de termos saídos divididos como nação das eleições, vale mesmo a ideia fortalecida de políticas de inclusão e respeito, emprego e competência com os cuidados quanto à riqueza brasileira. Isso sim é alguma luz contra a barbárie armada. 

Certo alívio nos ensina que se deixar, a incompetência e o crime político se reproduzem como coelhos. Os mecanismos de presença de vontade civil nos governos deverão ser incentivados. Um campo democrático pode se efetivar e a liderança e pragmatismo do Lula servirão como eixo, já que o fundamental ao encarnar um símbolo de esperança e articulação para isso ele reúne em si. 

Política continua sendo política, e isso esse resultado apertado nos deu. O recado é que há um jogo franco a ser jogado, e se faz a premissa de que política é arte da disputa com a regra máxima de que não pode é o temor e o terror da morte ou a própria morte e/ou violência. Há muitas expectativas e desafios. Sem a mobilização que a liderança do Lula reafirma esse resultado seria impossível. Porém sem a constituição de uma espécie de frente ampla contra o atual presidente, fruto da deliberada fanfarronice dele, estaríamos em um risco ainda maior.

Mexer os ingredientes e equalizar as demandas vai ser tarefa, cada um na sua competência, dos brasileiros interessados em agir de acordo com aspirações que constroem e não só destroem. Algo que devemos ter clareza do que esperar, além do sempre melhor – na vida, é claro, é que esse Lula 3 vai ser um governo de muitas orientações, com algumas diretrizes, que esperamos. Por uma sociedade mais pacificada, entretanto o governo vai ser um lugar de muitas vozes, e isso é o que pode ser bom nessa altura, já que indica diálogo. E não a voz única de alguém de baixa patente, inclusive.

Não vai ter guerra civil, vai ter luta política de vozes distintas em um governo que deve nos preparar para um futuro mais pleno em suas potencialidades e riquezas de toda ordem. Vai ser um espaço muito agregador, talvez até exageradamente, mas ótimo, pois certamente poderemos discutir e enfrentar temas difíceis, e não violentar o outro por isso. Fazer o futuro fazendo o agora e não repetir como emblema a grande frase do Millôr Fernandes: “O Brasil tem um grande passado pela frente”.

Marcelo Brice
é doutor em sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), professor na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e atualmente realiza estágio pós-doutoral em literatura na Universidade Nova de Lisboa.