Kayla Pachêco Nunes 
Professora da rede estadual do Tocantins no Bico do Papagaio e mestranda pelo ProfLetras/UFT – Câmpus Araguaína
 
Muitos municípios na parte Norte de nosso estado estão situados às margens dos rios Tocantins e Araguaia. Além do extrativismo e agricultura familiar, desde Tocantinópolis até Esperantina, milhares de ribeirinhos viveram por muito tempo da pesca e do turismo nas praias de água doce, formadas pelos bancos de areia que aparecem nas margens dos rios, entre os meses de junho e setembro.  
 
Das 25 cidadezinhas que compõem o Bico do Papagaio, pelo menos nove delas têm no mês de julho, tradicional período de férias escolares, o ápice de sua economia local. Turistas de diversas regiões aproveitam o calor do sol e o frescor das águas correntes da área de transição entre o cerrado e a floresta amazônica, para montar acampamentos ou visitar pousadas e familiares.
 
Mas esse verão terá de ser diferente. A diversão e o fomento à economia local deverão ceder lugar à preservação da vida. Embora o isolamento social gere impacto negativo ao Produto Interno Bruto, não podemos arriscar a integridade da população em função do lazer e do lucro. 
 
Mesmo com as medidas de isolamento social sendo flexibilizadas pelas autoridades, fazemos um apelo ao bom senso. Ainda não vencemos a primeira onda pandêmica da Covid-19 e somamos um percentual de infectados e mortos desolador em nosso estado. O Bico do Papagaio ocupa o segundo lugar em número de casos confirmados por região, sendo que Araguatins e Tocantinópolis (principais pontos turísticos do veraneio), estão entre e os dez municípios com maior número de casos no estado, somando até a última segunda-feira, 15 de junho, 320 infectados e 18 mortes. 
 
Além dos números de contágio da Covid-19 marcarem escala ascendente pontuando mais de sete mil casos, número maior que a população de muitos de nossos municípios aqui do extremo norte, mais uma vez reitero a fragilidade de nosso sistema de saúde. Nosso atrativo Bico só dispõe de um hospital de médio porte em Augustinópolis, e não temos nenhuma Unidade de Terapia Intensiva, UTI, num raio de 250 quilômetros dentro do estado. Sempre que necessário, nossos pacientes são submetidos a transferências de urgência para a cidade de Araguaína, também com capacidade insuficiente para a demanda, ou até para a capital Palmas, situada a 600 km. 
 
Embora nossos balneários ao ar livre ofereçam o melhor peixe frito e as melhores festas do estado, não podemos agir como no início do século XX e sofrer uma segunda onda de contágio ainda mais devastadora que a da Gripe Espanhola entre 1918 e 1920. Devemos fazer o dever de casa e aprender a lição. Nossas roupas de banho, chapéus, e guarda-sóis vão ter que esperar para o próximo verão. 
 
O povo do Bico, em especial das cidades ribeirinhas de Araguatins, Carrasco Bonito, Esperantina, Itaguatins, Buriti, Praia Norte, Sampaio, São Sebastião e Tocantinópolis, agradecem por nossa colaboração e nos aguardam no próximo verão.