Geralmente escrevo motivada por indignação, para reivindicar direitos básicos à comunidade que integro. Hoje escrevo impelida pelo espanto, a comoção, a dor. Os direitos que reivindico dessa vez também são básicos, e deveriam ser inerentes à condição humana: a segurança, a educação e a vida.

Enquanto lia para meu filho uma história sobre valores como a honestidade e a empatia, na “Fantástica fábrica de Chocolates”, deparei-me com mais uma escola servindo de cenário para a barbárie!

Desta vez as vítimas não eram adolescentes que possivelmente teriam cometido bullying. São crianças menores de sete anos que tiveram as vidas interrompidas quando ainda davam seus primeiros passos.

Em plena semana que celebra a paixão de Cristo, nossas rotinas são mais uma vez atravessadas pelo noticiário, que chega de forma instantânea pelas redes sociais, dando conta de mais um atentado contra estudantes, professores e a escola.

Questões de ordem socioemocional ou psicopatia, não podem ser tomadas como única causa para a recorrência de cenas como a da creche de Blumenau. Estamos convivendo com o terrorismo assim como antes víamos em comunidades distantes de nosso continente. Os homens-bomba não estão apenas no oriente Médio. Equipados com armas de fogo de todos os calibres, facas e machadinhas, estão entre nós, nas praças, clubes, igrejas...mas seu foco preferido tem sido a escola.

Esse alvo escolhido pelos terroristas não é mero acaso. A função da escola como espaço privilegiado para o desenvolvimento do pensamento crítico e a formação de cidadãos éticos e comprometidos com a transformação social, tem sido colocada em xeque.

Além do sucateamento pela constante retirada de recursos em todos os níveis, a escola, em especial as unidades da esfera pública, vem sofrendo ataques de discursos extremistas proferidos pelos que se autodeclaram “cidadãos de bem” e que viralizam como lugar de “balbúrdia” e “doutrinação”.

O mais sádico é saber que influenciadores digitais e lideranças políticas têm pautado sua atuação na mídia única e exclusivamente para atacar escola e professores, cerceando sua prática educativa pelo aparelhamento da Educação, retirando do currículo o espaço para a construção de pensamento crítico. Há ainda os que defendem o ensino domiciliar, como se vivêssemos em um país onde não há concentração de renda e desigualdades continentais entre os que podem custear formação individual e as centenas de milhões que sequer têm as três principais refeições diárias. Utópico seria se não fosse criminoso.

Precisamos falar sobre a cultura da violência que tem sido fomentada em diversos espaços sociais, em especial no suporte digital. Além de perfis e grupos virtuais que reverenciam líderes neofascistas e incitam a prática de atos de terrorismo em nome da intolerância de toda ordem, figuras públicas têm usado de seu lugar de prestígio para naturalizar comportamentos extremistas, sempre figurativizados pela presença de armas seja em fotos, vídeos ou gestos com as mãos. Dos códigos binários conectados via satélite, os bots de carne e osso assumem seu papel temático de terrorista e obedecem aos comandos direcionados a esse lócus escola, para escrever com o sangue de inocentes, crianças e adultos, as mensagens que seus líderes, falsos profetas, enviam:

A escola não é um local seguro. Esvaziem esse espaço, esvaziem seus percursos de aprendizagem, parem de refletir sobre os problemas sociais, passem a acreditar em discursos intolerantes e fake news e obedeçam apenas a nós, mensageiros do apocalipse.

Até quando cenas como esta vão se repetir? Transformar as escolas em prisões, inserindo segurança armada não é a solução. Não precisamos de armas, precisamos de livros, de cultura e de espaço para a construção de pensamento crítico e a formação de pessoas éticas e humanas.

Promover cultura de paz é pauta urgente, principalmente na educação. Essa cultura que valoriza a vida só será possível com a união de forças contra a intolerância, contra a naturalização da violência, e a favor da diversidade.