Fábio Nascimento Sandes
Docente e Doutorando em Letras: Ensino de Língua e Literatura, na Universidade Federal do Tocantins (UFT).
 
Esta história se conta de um jeito diferente. Não é linear e surge em um momento em que o inglês tem se estabelecido como uma língua de comunicação global. A principal razão de uso desse idioma tem favorecido não apenas os falantes nativos, ou seja, aqueles que o tem como língua materna, mas outros usuários não-nativos das mais variadas culturas.
 
O inglês simplesmente ocupa a posição, em uma escala global, de Língua Franca dominante. Antigamente, ou mesmo até hoje, costumava-se atribuir uma língua a uma comunidade definida e a uma nação. No contexto do isolamento social, com diversas tecnologias digitais e com pessoas indo de um lugar para outro, o mundo se vê dançando em um baile de máscaras, em que, para se relacionar ou dialogar, embala-se em uma lógica em que, dia após dia, fronteiras são fechadas ou abertas, você não fica parado em um só lugar. Hoje, para o bem ou para o mal, o idioma com que a história nos forçou a dançar foi a língua inglesa, como Língua Franca, pela sua característica de servir a vários usos, entre eles o de unir nações num esforço comum: o combate à pandemia da COVID-19.
 
O Novo Coronavírus, com todas as restrições que criou, veio comprovar da forma mais fascista possível, o quanto os países se viram obrigados a reconhecer uma língua para resolver os problemas comuns, inaugurando um processo que revela um novo ritmo, composto e complexo, fenômeno novo e independente. A língua que opera nos espaços científicos em nível mundial se liberta das amarras que a prenderam no interior dos rótulos de “uma nação”, “um povo”, “um território”, “uma língua”. Fortalece-se como prática comercial, científica e política, que traz para o centro do palco a comunidade global em si.
 
Nem todo mundo reconhece esse fenômeno. Acabam surgindo mal-entendidos aqui, resistências ali, sobretudo por essa língua ser vista como integrante de várias atrocidades da arrogância e do preconceito racial ao longo da história. Mas esse também é um preço que uma língua mundial deve estar preparada a pagar. Seja como for, a sanidade tem que ser pública e universal. Por isso, para não pagar o preço da contaminação da doença, é melhor desacelerar o ritmo, não sair de casa e, se sair, não se esquecer de colocar a própria máscara.