Baixei num desses hospitais privados na última segunda-feira com saturação 92%, secreção nas vias aéreas e muita tosse. Ainda que beneficiário por dependência de um plano de saúde, um dos 6% privilegiados da população do Estado, encontrei dificuldade de atendimento pelo número de pessoas que também buscavam igual resultado. E para quem ganha miolo de pão apenas com miolo de cérebro e não tem salário fixo, ficar parado significa muita coisa, menos continuar a mesma coisa.
 
De forma que ao ver imagens e publicações nas redes sociais princípio de caos nos postinhos de saúde municipais, constatava que os problemas não são apenas no setor público. Aliás, como tem ocorrido no país. Diferenciam-se na forma como são enfrentados pelos governos ou são demandados pela população.
 
Mesmo com as três vacinações completadas, a flurona e a dengue que avançam sobre a Capital e no Estado eram componentes circunstanciais de receios reais, agravados pela relação pacientes X leitos hospitalares que causaram pânico nos piores momentos do Covid-19. PCR de imediato, antibiótico e, para mim, o pior: internação sem poder fazer uso do computador.
 
Deixei o hospital com recomendações de repouso, após medicado, no dia em que se divulga no Jornal Nacional/Rede Globo que o Tocantins é o Estado que registrou o maior crescimento do número de casos de Covid-19 no país no mês de dezembro, praticamente dobrando a quantidade de contaminados e que também é  uma das poucas unidades da federação que não informam o número de óbitos pelo vírus desde 10 de dezembro. 
 
Se mortos advém dos contaminados, não haveria, por certo, dificuldades para informar um e outro, caso contrário se estaria perante um descontrole preocupante, quando não omissão criminosa deliberada, não justificada como se dá, se projetarmos semelhante desempenho em outros setores de saúde pública. Sabe-se quem entrou nos hospitais e não se sabe quem deles saiu, nem mesmo no paletó de madeira. É provável que os burocratas regurgitem problemas técnicos, mas que não refutariam a verdade até agora colocada.
 
Um equívoco de igual dimensão ao processo de transferência em curso das UTIs (iniciado no governo afastado quando a pandemia imaginava-se controlada) adaptadas para pacientes de Covid-19 ao tratamento de pacientes comuns e que este crescimento do número de casos no Estado indicaria providência em sentido contrário. Ainda mais amargando o Tocantins o penúltimo lugar no Brasil em índice de vacinação.
 
Neste incremento da pandemia, o governo há praticamente cinco dias se deslocou para a região do Bico do Papagaio, um contingente de 160 mil eleitores (16% do eleitorado do Estado) em 25 cidades num raio de 60 km que se pode percorrer de carro em dois ou três dias. O motivo é razoável: as enchentes.
 
Ocorre que há outro problema, de dimensão estadual no seu encargo: a volta da pandemia que matou 619 mil pessoas no país (3 mil delas no Estado) e que no Tocantins encontra um problema adicional: a precariedade da imunização. 
Mais grave ainda: as ações da saúde (hoje comandadas por um economista) que tendem, como se nota, a priorizar processos à necessidade, perfeitamente administráveis tanto pela legislação federal quanto estadual, levando as inconsistências do setor para o âmbito de equívocos na eleição de prioridades que deve-se creditar a vontades políticas.
 
A mesma que impulsionou o poder público do Estado, em pleno retorno da terceira onda do Covid-19, corrigir o orçamento da saúde para este ano em meros 1,6% (contra inflação anual de 10%) e projetar elevar as despesas com salários em 6,3%.
 
Nada muito diferente, no resultado, da imbecilidade do governo federal de realizar consulta pública sobre vacinação de crianças e exigir atestado médico para fazê-lo, após autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e diante da desigualdade de tratamento entre adultos e crianças para um vírus que não distingue faixa etária.
 
Saí do hospital com saturação em viés de subida mas paciência com vetor para baixo sobre ações e vontades políticas  públicas em ano eleitoral.