Danila Duarte [1]

No atual panorama empresarial, a convergência entre ESG (Ambiental, Social e de Governança) e diversidade se revela como uma jornada complexa, permeada por desafios muitas vezes ocultos. Apesar do crescente reconhecimento da importância dessa integração, obstáculos sutis persistem, lançando sombras sobre a busca por empresas social e ambientalmente responsáveis e inclusivas.

A pressão persistente para "fazer mais com menos" reflete não apenas uma busca por eficiência operacional, mas também um imperativo de sustentabilidade. As organizações enfrentam desafios não apenas na gestão eficiente de recursos, mas também na navegação por um cenário marcado por pressões e restrições. A incerteza e volatilidade, inerentes ao ambiente global, intensificam a necessidade de resiliência e adaptabilidade.

No contexto do ESG (Ambiental, Social e de Governança), esses desafios convergem com a demanda crescente por práticas empresariais sustentáveis. A integração dos princípios ESG no cenário empresarial tem se revelado uma abordagem transformadora, mas, dentro dessa tríade, a diversidade emerge como um elemento central, não apenas como resposta às demandas sociais, mas como uma estratégia essencial para o sucesso a longo prazo das organizações.

No paradigma ESG, que vai além do lucro para abraçar preocupações ambientais, sociais e de governança, a diversidade se revela como um catalisador para o impacto social positivo. Empresas que refletem a diversidade de suas comunidades não apenas fomentam o desenvolvimento social e econômico equitativo, mas também desempenham um papel ativo na construção de sociedades mais justas e inclusivas.

Diversos estudos já demonstraram que há uma correlação direta entre a diversidade nas lideranças e o desempenho financeiro. O estudo “Diversity Matters[2]” analisou dados de mais de 350 empresas em diversos setores e regiões, concluindo que empresas com lideranças mais diversas tendem a ter melhor desempenho financeiro. Outro estudo importante publicado na Harvard Business Review: “Why Diversity Programs Fail[3]” revelou que os programas de diversidade, quando implementados corretamente, podem impactar positivamente no desempenho financeiro e por fim o estudo publicado pela Deloitte:  Waiter, is that inclusion in my soup?[4] destacou que empresas que promovem a diversidade e a inclusão têm uma vantagem competitiva, e isso pode se refletir no desempenho financeiro.

Se financeiramente compensa, por que a integração de ESG e Diversidade ainda encontra obstáculos?

A verdade é que diversos fatores contribuem para os obstáculos. A resistência à mudança cultural dentro das organizações figura como um desafio central. Muitas empresas, enraizadas em práticas tradicionais, encontram dificuldades em transitar para uma mentalidade que valoriza o compromisso social e a diversidade como impulsionadores fundamentais do sucesso corporativo.

A falta de conscientização e educação sobre os princípios ESG e a importância do tema também se destaca como um obstáculo significativo. Sem uma compreensão abrangente, os membros da organização podem hesitar em adotar e implementar efetivamente essas práticas, gerando lacunas na aplicação dos princípios propostos.

Além disso, a avaliação de desempenho ainda ancorada em métricas financeiras tradicionais apresenta um desafio substancial. Muitas empresas continuam a depender fortemente de indicadores financeiros convencionais, tornando complexa a inclusão de critérios ESG no processo de avaliação.

A aquisição e retenção de talentos diversificados também se mostram uma área desafiadora. Em setores historicamente carentes de diversidade, a criação de equipes representativas pode enfrentar resistência e demandar estratégias específicas para atrair profissionais diversos.

A transição para práticas transparentes de relato ESG é outra barreira a ser superada. A falta de padrões claros e a resistência à divulgação de informações podem comprometer a credibilidade das organizações, minando a confiança de investidores e partes interessadas.

Fato é que, os obstáculos na integração de ESG e diversidade refletem a necessidade de uma transformação cultural profunda e um comprometimento genuíno com práticas mais sustentáveis e inclusivas. A superação desses desafios demanda não apenas estratégias pragmáticas, mas uma mudança de mentalidade que reconheça a importância intrínseca desses princípios para o sucesso a longo prazo das empresas.

A diversidade não é apenas uma meta a ser alcançada; é um compromisso contínuo que sustenta a vitalidade e a relevância da empresa a longo prazo. Vai além do simples cumprimento de cotas ou metas; trata-se de construir uma cultura onde a diversidade é valorizada como um ativo fundamental.

[1] Danila Duarte
mestranda em Gestão de Políticas Públicas pela UFT é formada em ciências contábeis com pós-graduação em auditoria e controladoria. Auditora Independente/CNAI. Coordenadora Regional do Compliance Women Committee no Tocantins e do Comitê de Compliance da Rede Governança Brasil. Possui certificações em Compliance Anticorrupção CPC-A e Compliance Público CPC-P. Auditora Líder na ISO 37:001 Sistema de Gestão Antissuborno e na ISO 37.301 Sistema de Gestão de Compliance. Atua como mentora para implementação de programas de integridade para prefeituras. Autora dos livros: Guia Prático do Consultor de Compliance e do livro Mulheres no Controle do CONACI. Foi uma das autoras da Cartilha para Estruturação de Programas de Integridade para Prefeituras da RGB. Currículo lattes: https://lattes.cnpq.br/7113743009012323. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7966-259X. E-mail: danila@ddcompliance.com.br

[2] HUNT, Vivian et al. Diversity matters. McKinsey & Company, v. 1, n. 1, p. 15-29, 2015. Disponível em: https://www.mckinsey.com/capabilities/people-and-organizational-performance/our-insights/~/media/2497d4ae4b534ee89d929cc6e3aea485.ashx

[3] DOBBIN, Frank; KALEV, Alexandra. Why diversity programs fail. Harvard Business Review, v. 94, n. 7, p. 14, 2016. Disponível em: https://hbr.org/2016/07/why-diversity-programs-fail

[4] https://www.deloitte.com/content/dam/Deloitte/au/Documents/human-capital/deloitte-au-hc-diversity-inclusion-soup-0513.pdf

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REFERÊNCIAS

Krindges,  L.  L.  A.  V.,  &  Alves  Da  Silva,  M.  (2022).  The  Impact  of  ESG  Practices  on  the  Actualization  of Fundamental Rights  in  the  Business  Sphere:  A  Deductive  Investigation. ESG  Law  Review, 5(ssue),  e01608. https://doi.org/10.37497/esg.v5issue.1608

Luca  Ribeiro,  T.  de,  &  Antônio  de  Lima,  A.  (2023).  Environmental,  Social  And  Governance  (ESG):  ABibliometric Review Study. ESG Law Review, 6(1), e01571. https://doi.org/10.37497/esg.v6i1.1571

YU, Ellen Pei-yi; VAN LUU, Bac; CHEN, Catherine Huirong. Greenwashing in environmental, social and governance disclosures. Research in International Business and Finance, v. 52, p. 101192, 2020.

ASIF, Mohammad et al. Is gender diversity is diversity washing or good governance for firm sustainable development goal performance: A scoping review. Environmental Science and Pollution Research, p. 1-16, 2023.