Uma lição histórica foi reafirmada e remodelada. Pedro Aleixo, vice-presidente de Costa e Silva, na reunião que editou o AI-5, o ato mais violento, tenebroso e autoritário da ditadura brasileira, se dirigiu ao presidente militar e afirmou: "Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina".

Transfigurada para o golpismo e a tentativa de golpe que os bolsonaristas delinquentes forçaram no domingo, 8 de janeiro, é possível dizer que: o problema é o gado e também o rei do gado, os peões e o administrador da fazenda. Deixando de lado a metáfora de bichos tão sensíveis como os ruminantes, sabemos o que está por trás e quem está por trás desses atos.

O exemplo recente de canalhice daquele mero e bestial deputado que se justificou por meio de um torturador doentio e conhecido para sujar ainda mais, em pleno parlamento, o seu voto no impedimento da ex-presidente Dilma diz muito sobre a conivência da nossa anistia e democracia.

A péssima criatividade dos delinquentes foi imitar a tentativa frustrada de golpe do trumpismo. Por que será? Talvez porque acharam que o Brasil é tão avacalhado que não daria resposta à altura, não enfrentaria os delinquentes de costas quentes, protegidos por militares, policiais, empresários, evangélicos e políticos nojentos – todos esses aos montes. E se respondesse, o que importa a eles estaria feito: bagunça, sujeira e muita destruição. Seria o desfecho para uma escalada golpista.

Esperamos, muitos dos que não rezam para pneus em portas de quartéis, que o tiro tenha saído pela culatra, pois já se sabe que a internação do ex-presidemente [presidente + demente] é mais uma “evacuação frequente” por desarranjo moral.

A posição correta e pronta, com garantias institucionais do governo do presidente Lula e todas forças políticas que não admitem que alguém diga “e daí, não sou coveiro” em plena pandemia é um sinal de amadurecimento da sociedade brasileira, ao menos nisso.

Esse projeto tacanho, vendido, grosseiro e abençoado pelos muito ricos (não é sobre você, ‘classe média’!) que abraçou e foi abraçado pelo bolsonarismo delinquente será atacado e com razão. O mito deles está foragido com medo de ser preso, entre nós os que falam são colaboracionistas – aquele que apoia o inimigo – e esses são muitos, pois uma parte deles servem a quem manda, e outra parte se dedica invariavelmente a reproduzir alguns bastiões da ignorância que perpetram desigualdades sociais que matam e afundam uma nação.

Os poderes institucionais precisam agir exemplarmente sobre os delinquentes oportunistas e figurantes do mal, prontos para lucrarem. E se a sociedade não agir sobre os colaboracionistas, eles se sentirão a salvo dos julgamentos sociais, se guardarão na confusão entre liberdade de expressão e crime. Além daqueles que servem aos quadros governamentais não para executarem uma boa prestação de serviço, mas, sim, erguerem a bandeira da bajulação, se dizendo progressistas. E isto também tem aos montes.  

“O homem criava e também destruía. Homem primata.” Que tenha um “E agora, José?!” E assim possamos pensar no futuro, em um para onde, afirmando o presente longe desses delinquentes oportunistas. Esse brado é mais uma tentativa de valorizar uma política da sociedade civil ativa que saiba o lugar do Estado, mas principalmente saiba o seu lugar, que é rechaçando a naturalização do mal social.

Marcelo Brice
é doutor em sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com estágio pós-doutoral em literatura na Universidade Nova de Lisboa (UNL-IELT) e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT).