Marcelo Lelis 
empresário e ciclista
 
Antes de mais nada, é notório que as bicicletas são excelentes opções para melhorar a mobilidade urbana, economizar com despesas de combustível e, ainda, adotar atitudes mais ecológicas a favor do meio ambiente. Sem contar os benefícios que a prática esportiva gera para a saúde e as possibilidades de lazer que um passeio de “bike” podem proporcionar. Posto isso, podemos começar a conversar.
 
O acidente do último dia 28/07/2020, onde os ciclistas Thiago Krygsman Horácio, de 35 anos, e Thiago Batista Branquinho Moreira, de 32, foram atropelados por um caminhão na TO-080 é uma fatalidade que comove a todos. Duas vidas jovens interrompidas de maneira trágica. Não consigo nem imaginar ou mensurar a dor de seus familiares e entes queridos. Nada que possamos falar ou fazer trarão essas vidas de volta. Nada nesse mundo fará a vida de quem amava esses dois jovens voltar ao que era antes.  
 
Como ciclista, e ativista da vida que sou, não poderia deixar de me posicionar. Como pai de família não posso deixar de demonstrar minha solidariedade e consternação em um momento tão triste como esse. Como cidadão não consigo parar de pensar que essa e outras tragédias envolvendo ciclistas poderiam ser evitadas.
 
Vivemos um momento onde a polarização política consegue adentrar em todas as áreas. Inclusive em pautas relacionadas aos ciclistas. Há poucos dias atrás vimos uma enxurrada de ódio invadindo as redes sociais incitando as pessoas a atropelarem os ciclistas. Com a desculpa de que somente os ciclistas que estivessem promovendo aglomeração é que poderiam ser atropelados. Mais contraditório do que justificar o ódio com ódio impossível. Acho que nem preciso explicar que sou contra aglomerações nesse momento de pandemia, mas faço esse adendo aqui. Não quero crer que as pessoas que compartilharam esse tipo de coisa realmente sejam más. Penso que essas pessoas queriam apenas chamar a atenção. Para serem notadas de alguma forma dentro dessa enorme bolha criada pelos algoritmos das redes sociais.
 
Assim como qualquer outro meio de transporte, conduzir uma bicicleta também exige que o condutor siga algumas regras básicas de circulação. Entretanto, não podemos ser colocados na parte pesada dessa balança. Uma vez que a própria legislação de trânsito brasileira, é muito clara em relação as prioridades a serem seguidas. Vejamos o que diz Artigo 58 da Lei nº 9.503 de 23 de setembro de 1997:
 
  • “Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores. 
    Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde que dotado o trecho com ciclofaixa.”
 
Repare que a regra diz que não havendo ciclovia na área urbana e rural é o ciclista que deve ter preferência sobre todos os usuários (veículos), menos o pedestre. 
 
Acredito que o poder público tenha que agir com mais respeito e inteligência para garantir a segurança de todos. Promover ações educativas com motoristas, pedestres e ciclistas, melhorar a infraestrutura, investir em ciclovias inteligentes. Falta ensinar a alguns motoristas que eles também são responsáveis pela segurança dos demais. É preciso providenciar com urgência essa lição de cidadania, civilidade, solidariedade e educação.
 
Precisamos entender que quem está pedindo passagem para chegar em casa com segurança é o bem mais precioso de todos. Quem está pedindo passagem nesses dias tão incertos é a vida de cada um de nós. Deixe a vida pedalar. Deixe a vida chegar em casa sã e salva.