Luiz Armando Costa

Completam-se nesta quarta oito dias do afastamento do governador eleito do Estado pelo Superior Tribunal de Justiça. Em doze anos, já somam seis os governadores que bateram ponto no Palácio Araguaia. Uma média fantástica de um governador a cada dois anos.

De lá até aqui, todos, absolutamente todos, os Chefe de Executivo estaduais foram acusados de desvios de recursos públicos. Uns conduzidos coercitivamente à Polícia Federal e outros levados para atrás das grades.

Em 1962, o prefeito eleito de Porto Nacional, Hosterno Pereira, foi cassado do cargo pelos próprios vereadores do seu partido, o PSD, pressionados pelo capo local João Querido.

Hosterno havia sido eleito contra a vontade da maior liderança do PSD. Contou a seu favor contra João Querido, sua popularidade e a de seu pai, Sabino Pereira.

João Querido, então, fez uso de falácia: acusou Hosterno de não aplicar conforme o combinado a repartição das verbas na zona rural e urbana. Na verdade, Hosterno não quis foi desviar recursos para o grupo.

Foi cassado em uma sessão tumultuada que necessitou a intervenção do bispo Don Alano para retirar os revólveres dos vereadores que estavam carregados de balas.

Depois de malogrado o desejo de João Querido de colocar (sem eleição) no seu lugar um aliado (e não sustentada a acusação), buscou novamente Hosterno que não aceitou retornar ao cargo. Apenas o transferiu ao então presidente da Câmara, Aquiles Maia.

Hosterno, hoje com 89 anos, aposentado, disse-me dias atrás que não se arrepende de não ter assumindo novamente. Tem uma vida franciscana. Veio a ditadura militar e foi preso pela PF junto com mais três irmãos (Hamilton Pereira/Pedro Tierra, Dagmar Pereira e Atos Pereira) acusados de subversão pelo governo militar.

Hamilton foi acusado de comunista porque dirigiu uma peça de teatro no grêmio estudantil no 7 de setembro em substituição ao desfile cívico militar cancelado por força do calor insuportável. Hosterno tinha presidido a Casa do Estudante do Norte Goiano e Dagmar apenas uma professora de matemática.

Ameaçavam o sistema no imaginário autoritário dos militares a mais de mil quilômetros de Brasília e quase 3 mil da capital do Estado da Guanabara onde à época residia o grosso dos militares, ainda não transferidos para o Planalto Central do país.

Acaso ou destino, quis a história que, no momento em que o país resiste à implantação de uma nova ditadura, o Estado fosse colocado sob condução, ainda que a priori temporariamente, de um político nativo. E nascido em Porto Nacional de Hosterno, Dagmar, Atos Pereira, Hamilton e tantos outros que lutaram contra a opressão.

O retrovisor é de graça para Wanderlei Barbosa. Se olhar para trás com atenção, poderá calibrar o futuro. Desde que o poder seja exercido como produto da autoridade da lei  de que é investido e da representação popular.

Ambas subordinadas ao sistema de freios e contrapresos e ao voto universal que contempla a liberdade de escolha. E de expressão.