Há uns seis anos, viajamos, eu e minha esposa, para Nova Iorque e San Francisco, nos Estados Unidos. Confesso que não sou muito chegado a visitar certos templos do consumo, como é o caso das megalojas de departamento, tão comuns em metrópoles como Nova Iorque, Paris ou Londres. Para mim, a prioridade são as livrarias e as universidades.

No primeiro dia, fomos logo explorando algum espetáculo da Broadway que estivesse em cartaz. Lá, quando a peça é boa, resta anos e mais anos em exibição. Escolhemos, então, “O Fantasma da Ópera”, que já estava há uns 10 anos em cartaz. Todo esse tempo em exibição só é possível pela imensa demanda de turistas que visitam a Big Apple todos os dias, aquela cidade que não dorme.

No segundo dia, fomos conhecer a maior Chinatown dos Estados Unidos. Lá, almoçamos para, em seguida, fazermos aquele mesmo circuito em que o escritor Tom Wolfe descreveu no seu clássico “Fogueira das Vaidades” (cenas do livro acontecem no Bronx, Brooklin e Manhattan).

No terceiro dia, minha esposa quis ir à sede da ONU. Eu queria mesmo era conhecer uma das melhores universidades dos Estados Unidos: a de Columbia. Após uma boa conversa e o tentador convite para jantarmos em um bom restaurante de Manhattan, convenci Adriana. Pegamos um táxi rumo ao campus da Universidade de Columbia.

Columbia se localiza na Avenida dos Holandeses, o campus é suntuoso. A biblioteca central, os restaurantes, os professores, muitos deles laureados com o Prêmio Nobel, fazem de Columbia uma das mais importantes universidades do mundo.

Tudo como eu imaginava. O Que eu não imaginava, todavia,  era a quantidade de chineses estudando em Columbia. Pasmem: de cada 10 alunos, 6 são chineses! Fiquei com a impressão de que há mais chineses do que americanos estudando naquele templo do saber nova-iorquino.

No dia seguinte, pegamos um voo de quase 6 horas rumo a San Francisco.
Lá chegando fui visitar a universidade na qual três dos meus professores do mestrado da Unicamp concluíram o doutorado: a mitológica Universidade de Stanford.

No esplendoroso campus, testemunhei a mesma cena que tinha me impressionado em Columbia: o número de chineses que lá estudavam. A China envia seus brilhantes alunos para as melhores universidades do planeta. De volta ao Brasil, passei a ler mais sobre aquele país. 

Há cerca de 20 dias, recebi uma indicação de um colega da Unicamp, que hoje é professor lá.
̶  Salatiel, saiu um livro que vai mudar a visão do capitalismo implantado na China -disse ele.
̶  Qual é o título do livro? - perguntei.
̶  “Como a China Escapou da Terapia de Choque”, da doutora Isabella Weber.
Após me despedir do amigo, encomendei logo dois. Um para meu deleite e outro para o deleite de um grande amigo.

No momento que escrevo este artigo, li 110 das 470 páginas do livro. É impressionante o que faz um grande livro: muda nossa maneira de ver o mundo.

E o livro da doutora Isabella Weber é uma preciosidade que está fazendo o maior sucesso nos quatro cantos do mundo aonde chega. O livro é inovador porque desmistifica os mitos consolidados em torno das reformas ocorridas na China. Mitos que a autora destrói com devido rigor acadêmico. O modelo chinês joga por terra tanto a ortodoxia quanto à heterodoxia. A bem da verdade, o modelo que salvou a China de aplicar tratamentos de choque neoliberais é resultante de uma equipe técnica muitíssimo preparada para dar um rumo ao sistema político do país. Detalhe: todos os integrantes da equipe são chineses.

Todo o embasamento que direcionou o sistema político da China pós-Mao Zedong se encontra em um livro de sabedoria milenar chamado “Guanzi”. “O Guanzi é um texto central para o antigo pensamento econômico chinês sobre a estabilização de preços”, relata a autora.

Nas 110 páginas lidas, percebi a grandiosidade da tese da doutora Isabella Weber. Tenho, ainda, um longo caminho a percorrer. Com a certeza de que o livro da Doutora Webber é um clássico, enquanto clássico que é, tem de ser sempre revisitado. Encerro o que tinha a dizer com o depoimento de prestigiados acadêmicos sobre essa obra de fato seminal.

A lição que os escritos da doutora Isabella Webber passa pela desconstrução do ser ortodoxo-heterodoxo. Alicerçado em uma cultura de 7 mil anos, a China construiu seu próprio caminho iluminado por sua imensa sabedoria.                          

                                      TRECHOS
"Este livro traz a interpretação mais convincente que já li acerca da reforma chinesa e sua capacidade de promover crescimento e transformação, preservando a coesão social e a união da sociedade. É o produto de uma mente da qual se pode esperar compreensão do fenômeno que é a China hoje. Trabalho de uma economista de primeira linha”
James K. Galbraith, professor da Universidade do Texas

“O estudo de Isabella Weber é único. Utiliza não apenas uma ampla gama de documentos, mas também extensas entrevistas, e oferece uma análise rica, equilibrada e erudita sobre a complexa realidade de um período fundamental para a história do mundo moderno: quando o “big bang” colocou a China rumo a uma reforma pragmática que perdura até hoje”
Peter Nolan, professor da Universidade de Cambridge

“Como a China escapou da terapia de choque merece um amplo público. Oferece uma análise séria das lutas intelectuais e políticas que transformaram aquele país e ainda repercutem globalmente. Fornece informações fundamentais sobre ‘como o gigante asiático funciona’ e demonstra, com perspicácia, que o neoliberalismo não é a única saída. Um dos livros mais estimulantes e esclarecedores que já li.”
Inderjett Parmar, professor da Universidade de Londres

Salatiel Soares Correia
é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas,Mestre em Energia pele Unicamp. É autor de oito livros relacionados aos temas energia, política e desenvolvimento regional.