Ouço falar do Colégio Americano Batista de Pernambuco desde meus tempos de criança. Foi para lá que o filho de um pequeno fazendeiro se dirigiu, saindo, nos anos de 1940, de seu torrão natal (Itacajá, no antigo norte de Goiás, hoje, Tocantins), com o firme propósito de estudar num dos mais tradicionais colégios do Brasil de então: o Americano Batista de Recife. Eis aí um desafio e tanto!

Fico a imaginar o quanto foi difícil para aquele rapazola, mal saído da adolescência, enfrentar mais de 3 mil quilômetros que separam Itacajá da capital pernambucana naqueles tempos, em que o ouro negro do asfalto praticamente inexistia no Brasil rural, repleto de estradas lamacentas e esburacadas.

A atitude corajosa daquele rapazola desatrelou seu destino ao do de seu genitor, irmãos, primos e tios, que seguiram naquela vida pacata tão característica do mundo rural, construído pelo uso da enxada e da pecuária de baixa produtividade.

O que fez a diferença foi a educação de qualidade construída num centro de excelência como era reconhecido o Colégio Americano Batista. E assim foi que o filho de um pequeno fazendeiro se fez Promotor de Justiça, Juiz de Direito, Desembargador, presidindo, no final da carreira, o Tribunal Eleitoral de Goiás.

Esse homem era meu falecido pai.

Foi, a partir dele, que tomei conhecimento das ilustres figuras da intelectualidade brasileira que, com ele, estudaram no mais tradicional colégio de Pernambuco. O imortal da Academia de Letras Ariano Suassuna foi um deles. O também imortal da mesma academia, o historiador Evaldo Cabral de Mello, irmão do grande poeta João Cabral de Mello Neto, foi outro.
Inúmeros escritores, juristas, ministros conviveram com aquele rapazola que chegou limpando os banheiros da instituição e dela saiu como chefe da biblioteca.

Na última vez que estive em Recife, visitei o colégio do qual meu pai com tanto carinho falava. Ao entrar naquela biblioteca, veio-me a mesma sensação de lembrança que o grande escritor francês, Marcel Proust, teve ao tomar uma xícara de chá saboreando um bolo Madeleine.

Proust se lembrou dos dias felizes que passara na infância na casa de suas tias na pequena Combray. Eu me lembrei de meu pai sentado naquela biblioteca, tal como ele fazia, todos os dias, quando terminava o Jornal Nacional e entrava no seu escritório para estudar. Meu pai não é, para mim, um retrato na parede!