André Demarchi
Antropólogo e professor do curso de Ciências Sociais e do Mestrado em Comunicação e Sociedade, ambos da UFT
 
Odilon Morais 
Antropólogo e professor do curso de Pedagogia da UFT
 
Diante da pandemia provocada pelo coronavírus e da importante decisão de suspender as aulas presenciais, a Universidade Federal do Tocantins se defronta com sua história de inclusão social e promoção da diversidade étnica e cultural.
 
É sabido que a UFT fez história no Brasil e no Estado ao adotar as políticas de ações afirmativas para indígenas em 2004 e para quilombolas em 2013. Foi, por isso, uma das primeiras universidades brasileiras a aderir a esse importante mecanismo de reparação à violência histórica sofrida pelas populações indígenas e afro-descendentes. É sabido também que a UFT é majoritariamente composta por estudantes em situação de vulnerabilidade sócioeconomica, que em sua maioria, assim como os estudantes indígenas e quilombolas, não possuem acesso ou possuem acesso limitado à internet e computadores.
 
Em uma decisão apressada e sem consulta aos colegiados de curso e representações de discentes, docentes e técnicos a reitoria da universidade informou a comunidade acadêmica que durante a quarentena as aulas deveriam ser ministradas por meio de plataformas digitais. Mesmo que bem intencionada, essa decisão coloca em situação de exclusão grande parte do alunado, cuja maioria, como dissemos, está privada do acesso aos aparatos digitais. De posse da orientação da reitoria diversos colegiados dos sete campi da UFT decidiram por manter as aulas à distância, ignorando o despreparo dos docentes para ministrar aulas nesse formato e, mais grave, deixando de levar em consideração que as aulas não serão acompanhadas por boa parte dos discentes, principalmente aqueles que habitam territórios indígenas e quilombolas.
 
Em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (2016-2020) a UFT apresenta como eixos centrais de suas políticas institucionais a diversidade cultural, os direitos humanos e as relações étnico-raciais, buscando a “equidade de oportunidade nos processos formativos”. Esse último aspecto, central no PDI e na própria história da instituição está sendo violado pela adoção das aulas por meio das plataformas digitais, ferindo o princípio fundamental de que o ensino público deve ser ministrado em iguais condições para todos e reproduzindo as evidentes desigualdades sociais e econômicas existentes na sociedade brasileira.
 
No dia 30 de março de 2020, o Conselho Superior da UFT têm a oportunidade de não colocar a universidade contra sua própria história de inclusão social e de promoção da diversidade cultural e étnica, suspendendo temporariamente o calendário acadêmico e com isso as aulas presenciais e não presenciais por tempo indeterminado.