Um homem espera na pequena estação da cidade suíça de Davos um trem que o levaria rumo ao cume de uma montanha onde existia um sanatório. Seu objetivo era o de visitar um primo que padecia de tuberculose. Foi para lá pensando em passar uns dias. Entretanto, ao descobrir que também estava tuberculoso, passa a conviver e a sentir o drama de todos aqueles que padeciam da mesma doença.  E assim os anos vão se passando.

 A convivência com o seu próprio sofrimento e o dos que o rodeava faz Hans Castrop (era esse o seu nome) rever e mudar seus próprios valores. A rigidez da cultura alemã na qual foi criado vai transformando o personagem num homem mais humano e tolerante. A dor dos outros passa a ser sua própria dor, pois vê sua vida e a dos que o rodeiam se transformando ante ao sofrimento e a morte.

Da montanha de Davos partimos para outro cenário. A cidade imaginária de Macondo. Lá as sucessivas gerações da família de um coronel Aureliano Buendía vão sendo expostas dentro de um mundo surreal repleto de histórias inventadas que no fundo retratam a própria história da América Latina.

Da cidade de Macondo  partimos para um terceiro cenário . Este evidencia as angústias de um ser humano no seu mundo psicológico ante a imagem atormentada do pai que o perseguia mesmo depois de morto.    Tudo se passa num processo que nunca é julgado e na constante presença de um personagem que só conhecemos pela primeira letra: K.

Finalmente chegamos ao último cenário. Este agora se passa no interior de um Brasil que o Brasil naquela época desconhecia: a da miséria do sertanejo nordestino. Lá ocorreu um conflito cuja raiz era uma só: enquadrar a rebeldia sertaneja ante a nascente república. Após inúmeras batalhas com mortes de ambos os lados o poder federal, enfim, vence. O fato não passou despercebido do jornalista, escritor e engenheiro que foi enviado ao local para cobrir o conflito.

As três primeiras cenas  acima descritas se passam em três grandes clássicos da literatura universal. A primeira se refere à Montanha Mágica do escritor alemão Tomas Mann; a segunda, do livro Cem Anos de Solidão, do colombiano Gabriel Garcia Marques; a terceira, de O Processo do escritor tcheco Franz Kafka. Já a última cena se encontra num dos maiores clássicos da literatura brasileira. Falo de Os Sertões de Euclides da Cunha.

Tudo boa literatura que nos ajuda a compreender a vida, a realidade de nossos dois mundos—o interior e o exterior. É essa razão pela  qual um dos maiores prazeres que tenho na vida é o de ler e refletir. Sou daqueles que pensam que a vida  sem o exercício da  reflexão não merece ser vivida.


Salatiel Soares Correia
é engenheiro, bacharel em administração de empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outros, do livro A energia na Região do Agronegócio