A Universidade Estadual do Tocantins, novamente, é manchete na mídia tocantinense. Desta vez, não por acusações de irregularidades em suas práticas pedagógicas ou administrativas, muitas vezes, culminadas em processos judiciais das mais diversas naturezas. Mas isso não significa que o cenário acadêmico da Unitins seja dos melhores. Pelo contrário. 

Nas últimas semanas, ressabiado, tenho observado toda cobertura da imprensa ao iminente início das atividades do curso de Medicina no campus Augustinópolis, norte do estado. Sem dúvida, um marco para a Unitins, para o ensino superior estadual, para a promoção da saúde pública e para o desenvolvimento socioeconômico da região do Bico do Papagaio. Mas é preciso ir além dos famigerados oba-oba dos nossos representantes políticos. A sociedade precisa compreender um pouco mais a realidade desta importante e tradicional instituição educacional do Tocantins.  

A história da Unitins pode ser comparada à representação mitológica da ave fênix, aquela que quando morria entrava em autocombustão para renascer das próprias cinzas. São muitos os (des)caminhos percorridos nestas três décadas de existência. Não é exagero afirmar que a Unitins é uma balzaquiana que não alcançou a maturidade, uma instituição sem identidade. Aliás, sem muita coisa: sem orçamento digno, sem docentes efetivos, sem campi próprios, sem estrutura adequada, sem autonomia! 

Contrariando o que é previsto no artigo 207 da Constituição Federal, a dinâmica acadêmica da Unitins é marcada pela subserviência. A atual gestão da universidade representa bem os (des)mandos da classe política em seu cotidiano. Trago dois simples exemplos para sustentar essa percepção: o campus Paraíso do Tocantins e o já citado curso de Medicina em Augustinópolis. Duas típicas articulações eleitoreiras. A primeira, pensando nas eleições municipais que ocorreram em 2020 e, agora, a segunda com perspectivas ao pleito estadual de 2022. E aqui vale o registro: nada contra a expansão universitária para diferentes municípios do estado, assim como acredito que novos cursos são muito bem-vindos para o seu crescimento acadêmico. Desde que haja planejamento. 

Educação, como sabemos, se faz com organização. Não dá pra ser complacente com decisões tomadas às pressas, de forma arbitrária, não respeitando sequer o Plano de Desenvolvimento Institucional da universidade e, pior, não dialogando com a comunidade acadêmica. Ações, nitidamente, efetivadas para agradar políticos que apadrinham a universidade por meio de suas emendas parlamentares. Infelizmente, essa é tônica que presenciamos na UNITINS há tempos e reproduzida, sem esforço e sem vergonha, por aqueles que estão à frente dela na atualidade. Isso é triste, além de perigoso, por se tratar de uma instituição pública que não deveria se sujeitar a esta conduta de aprisionamento. O cenário é mais decadente pelo fato da atual equipe gestora ser formada por alguns dos poucos professores efetivos do quadro de servidores que teriam por obrigação ética libertar a universidade deste histórico e degradante jogo de interesses onde quem perde sempre é ela.   

A inauguração do campus Paraíso foi um desrespeito às comunidades acadêmicas dos demais campi, que já sofriam com a precariedade de suas estruturas, e veio se juntar ao universo de prédios emprestados, alugados ou cedidos, com laboratórios deficientes e professores sem estabilidade para o exercício profissional. Este último ponto, aliás, é vergonhoso: a UNITINS instala campus, abre novos cursos, mas sequer tem professores efetivos para eles. Quando muito promove processos de seleção para professores substitutos, temporários. A persistência na contratação de docentes na velha base dos amigos dos amigos, sem um processo mínimo, amplo e aberto de seleção, é escandalosa. Será esse o exemplo que quer transmitir aos futuros profissionais, egressos de seus cursos, que almejam o serviço público?! Minimamente, essa prática é imoral perante os tradicionais ritos acadêmicos de seleção docente instaurados por universidades sérias e de qualidade.   

Professores temporários que podem ter seus contratos rescindidos a qualquer momento, coordenadores e diretores comissionados que seguem decisões unilaterais promovidas pela reitoria, sem forças para contraposição de ideias e promoção de um debate acadêmico maior. Essa é a realidade institucional em que o mais novo curso de Medicina do Tocantins se fundamentará. Como esquecer a vexatória cópia da logomarca do curso de Medicina da UFT na capa do Projeto Pedagógico do Curso de Augustinópolis no dia da solenidade de entrega simbólica ao governador no ano passado?! Se é para se espelhar na universidade coirmã que seja para promover a expansão dos campi com responsabilidade e a abertura de concursos públicos para o vínculo efetivo de docentes. Já seria um bom começo para a Unitins. Enquanto isso, abnegados colegas professores vão se desdobrando em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão em estruturas que se assemelham aos puxadinhos que meus parentes constroem em suas residências ao se depararem com o repentino e não programado aumento da família.   

Rodrigo Barbosa e Silva
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA). Professor da Unitins, campus Palmas.