Salatiel Soares Correia
é Engenheiro, Administrador de Empresas, Mestre em Ciências e autor, entre outros livros, de Cheiro de Biblioteca.

Em tempos de pandemia fui abatido pela Covid-19. Tive de me isolar por 15 dias para cumprir o ritual e, nesse isolamento, submeter-me ao tratamento.
De início, confesso que fiquei assustado com os primeiros sintomas da doença, extrema fraqueza, tosse incessante, perda de apetite e o que era mais grave: a dificuldade de respirar.

Embora a covid tenha comprometido 20% do meu pulmão, senti dificuldades em respirar — e isso de fato me deixou apreensivo. Nesses dias de agonia, quando as incertezas com a vida pairam o nosso ser, é natural que nossos pensamentos se voltem para o criador. Colocar Deus no comando da situação traz serenidade.

Com sintomas considerados médios, coloquei-me no lugar daqueles que vão a óbito. Gente com comprometimento do pulmão superior a 50% vai vendo a vida ir embora de uma maneira muito desesperada, pois é desesperador você não poder respirar pela falta de oxigênio. Essa é a mesma sensação do afogado que morre por não saber nadar.

Ao vivenciar uma situação dessas, pude aquilatar a maneira cruel com a qual o governo Jair Bolsonaro lida com uma situação longe de ser uma gripezinha ou de ser resolvida pala mágica cloroquina presidencial.

Não posso deixar de me indignar com o comércio que políticos do Amazonas desejavam fazer com o oxigênio ou com os desvios de recursos destinados para construção de hospitais de campanha do Rio de Janeiro. Que a justiça seja feita e retire para o lixo da história pseudogovernadores como este blefe chamado Wilson Witzel.

Se há heróis nessa tragédia com a qual convivemos há mais de ano, esses são os milhares de profissionais de saúde — muitos deles mortos pela covid — que arriscam suas vidas para cuidar milhares de brasileiros enfermos em leitos hospitalares repletos de contaminados.

A covid revelou o caráter de canalhas voltado às mais sórdidas das corrupções, aquela que comercializa com a vida. Mas também revelou uma corrente maravilhosamente humana de profissionais de saúde, famílias e amigos que se esqueceram de si para cuidar dos outros.

Nesse sentido, peço licença aos meus leitores para agradecer àquela profissional que, com competência e amor, cuidou de minha saúde desde os primeiros dias de agonia. Muito obrigado, doutora Suelene Pedrosa Soares Correia, com muito orgulho, minha querida irmã!