Luiz Antônio Francisco Pinto
Titular da Promotoria de Saúde de Porto Nacional Coordenador Substituto do CaoSAÚDE MPTO

No contexto pandêmico no qual vivemos em razão da Covid-19, deveria ser desnecessário escrever ou tecer comentários sobre o quão importante é evitar aglomerações, todavia, com as notícias diuturnas que temos de aglomerações de pessoas, esse tema tem de ser repisado.

Não é segredo para ninguém que o contágio pelo coronavírus se dá de muitas formas, sendo a principal pelo contato social.

Tenho consciência de que o contato social é praticamente impossível de ser abolido e não é isso que se busca numa sociedade. Entretanto, em alguns contextos ele pode e deve ser mitigado em prol de um bem maior.

Postos esses raciocínios, temos que o contato social durante pandemia ocorre em alguma medida e não é possível extingui-lo, pois as pessoas precisam trabalhar, locomover-se, encontrar familiares no dia a dia, ir a bancos, hospitais, supermercados, fazer e receber entregas, entre tantas outras modalidades que poderíamos elencar aqui. 

Ocorre que muitas outras formas de contatos sociais poderiam e deveriam ser evitados para um bem maior com um pouco de esforço e solidariedade, se não em relação a si mesmo e seus familiares, mas por um senso de civismo e de coletividade.

Infelizmente temos visto na mídia nacional - e na tocantinense não é diferente -, aglomerações de pessoas pelos mais variados motivos, na maioria das vezes associadas a atividades de lazer, tais quais shows, atividades esportivas de caráter coletiva, frequência a praias, bares, restaurantes etc.

É indiscutível que o lazer é parte imprescindível para uma saudável qualidade de vida, contudo, num contexto pandêmico, o lazer, pelo menos o que se pratica em âmbito coletivo, deve ficar em segundo plano para autoproteção e proteção do outro da contaminação pelo coronavírus.

Assim, o indivíduo deve buscar evitar aglomerações não somente para sua proteção, mas também pelo senso de solidariedade com o próximo. Num momento em que há 539 mil mortos no país, profissionais de saúde trabalhando à exaustão para tratar doentes, famílias enlutadas pela perda de pessoas queridas, é um “tapa na cara” da sociedade gestores públicos fomentarem atividades coletivas ou se omitirem de fiscalizar a sua ocorrência, artistas promoverem eventos com concentração de pessoas, bares e restaurantes funcionarem às escuras e com portas fechadas para burlar a fiscalização.

Não se desconhece que muitas atividades que dependem de público estão economicamente prejudicadas. Se de um lado é assim, de outro, o interesse pela sobrevivência humana enquanto espécie deve prevalecer ao interesse econômico. 

A escolha entre promover/participar de aglomerações ou se resguardar deveria ser instintiva para qualquer um, inclusive para aqueles que promovem aglomerações e quem dela participa, mas, na prática, o que estamos vivenciando são atitudes que afrontam totalmente esse senso de sobrevivência.

Apesar de eu ter uma tendência natural a acreditar que são os mais jovens que se “arriscam” de maneira mais frequente com aglomerações, é comum ver pessoas maduras em supermercados, bancos e outros locais públicos sem máscara, usando-a incorretamente ou mesmo se negando a usá-la quando solicitados, o que demonstra que a ignorância na atualidade não encontra barreiras no suposto aprendizado pela vida.

Apesar de ser tentador dizer neste aspecto que o exemplo para a ausência de cuidados em face da pandemia “vem de cima”, a começar por muitos de nossos líderes políticos em variadas esferas de governo, não cairei nesta tentação, pois o senso de sobrevivência tem de ou deveria estar acima de qualquer mau exemplo visto com tanta frequência. Quem não o tem está colocando a si mesmo, sua família e a coletividade em risco, em relação à doença propriamente dita, bem como contribuindo para o colapso do sistema de saúde.

Infelizmente não acredito que haverá mudança de hábito ou de concepção por parte de muitos em relação a esse assunto, pois não há prova maior das consequências da pandemia que meio milhão de irmãos brasileiros mortos. No entanto, penso que os indivíduos que têm consciência da necessidade de diminuir as consequências nefastas da pandemia não devem esmorecer.