Após dois anos de hiato, balões, pompons, cartazes e gritos de guerra coloriram as arquibancadas de ginásios escolares Tocantins a fora. Em 2022, os Jogos Estudantis do Tocantins (Jets), puderam contar com a participação das torcidas em campo, apoiando seus times. 
 
Ver a alegria dos adolescentes, que diante de um confronto se confraternizavam, trouxe um misto de sensações. As orações dos atletas antes do jogo, as vibrações positivas dos amigos às margens do retângulo que delimita os limites da quadra, e a expectativa dos professores com convicção de que seus alunos são os melhores podem ilustrar a experiência da última semana.
 
Esse episódio poderia romantizar a paixão pelo esporte e a certeza de seu fundamental papel na formação da cidadania. Porém, como tenho feito de modo insistente, o que me traz de volta a esta página é o sentimento de revolta pela realidade que esses adolescentes, no sonho de serem atletas, ainda enfrentam.
 
Além da insegurança alimentar, da falta de ambiente confortável para estudar e da insuficiência de recursos pedagógicos, assim como meus alunos de uma escola do campo, muitos estudantes não têm uma rotina viável para a prática esportiva. Em nossa escola, a quadra não é coberta e o piso avariado pela ação do tempo, ainda não é revestido, o que tem rendido muitos ferimentos devido à espessura do cimento. 
 
Outro triste detalhe é a falta de equipamentos, haja vista que a verba recebida para a manutenção da rotina na escola não é suficiente nem para as despesas fixas como o consumo de energia elétrica, água e gás. Para entrarem na quadra, meus alunos tiveram de contar com o empenho de dois professores que pagaram do próprio salário alguns metros de cano PVC para improvisarem caneleiras ao time.
 
O resultado dessa omissão estatal não poderia ser outro, nossos times masculinos com jogadores promissores foram eliminados de goleada pelos adversários, matriculados em escolas com mais investimentos. E para provar que esse texto não é recalque pela derrota, vale registrar que nosso time feminino foi classificado para a etapa regional.
 
Uso esse espaço de diálogo para convidá-los a refletirem. Estamos em ano de copa do mundo. Em breve teremos muitos apelos na mídia convocando o sentimento de amor à nação, e de incentivo ao esporte. As derrotas que o Brasil tem amargado nos últimos dez anos são justamente o reflexo dessa ausência do Estado na formação de base. 
 
O fomento ao esporte e apoio aos atletas não deve ser interesse da iniciativa privada através dos clubes que usam o talento de jovens com vistas ao lucro. Fazer das políticas públicas uma rotina, vai além de revelar talentos no esporte, é uma questão de ordem social e humana.
 
Se o discurso do poder público não se traduzir na prática de forma isonômica entre todas as regiões do país, ainda teremos de conviver com a demagógica e desumana narrativa da meritocracia, de que basta ter talento e se dedicar muito. Enquanto isso, temos de engolir os resultados que colhemos na quadra, na sala de aula e na vida.