Desde fevereiro temos convivido com uma triste realidade mundial, a invasão russa à Ucrânia. Ainda que pareça algo distante para nós brasileiros, a verdade é que em diversos sentidos estamos já amargando o impacto do conflito armado no Leste da Europa. O agronegócio brasileiro é o maior produtor mundial de grãos e está também entre os primeiros fornecedores de proteína animal no cenário internacional. Devemos nos perguntar, e o que a guerra tem a ver com isso? Muito.

Apesar de haver notícias que digam que a guerra não terá efeito na Safra brasileira de 2022 e 2023, essa não é a realidade que o agronegócio tem enfrentado desde fevereiro. Nossa cadeia produtiva, em um clima predominantemente tropical, depende muito de nutrientes e fertilizantes para enriquecer o solo e impulsionar a produção. Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK) são nutrientes dos quais a nossa agricultura é dependente para a produção em larga escala e é justamente a Rússia uma das maiores produtoras e exportadoras mundial desses fertilizantes.

Para termos uma ideia, o Brasil diminuiu em 33% a produção de fertilizantes nas duas últimas décadas, enquanto a demanda por eles quadruplicou, como noticiou recentemente o Canal Agro. Assim, nos tornamos cada vez mais dependentes da importação desses produtos para nossa produção. Segundo o MAPA, 80% dos fertilizantes empregados na agricultura nacional vem do exterior, dos quais 23% vêm da Rússia. De modo que com a as sanções econômicas ao governo de Vladimir Putin, os produtos estão se tornando cada vez mais escassos e o preço está aumentando no mercado mundial.

Tudo isso gera um efeito em cadeia que impacta direto a nossa produção. Os preços das principais comodities brasileiras (soja e milho) começa a oscilar muito e se torna menos concorrente no mercado mundial, esfriando nossas vendas. A maioria dos produtores está optando ou por segurar as vendas ou fixar preços, mas a situação não é sustentável no médio prazo, o que gera uma imensa incerteza para o próximo período.

Uma opção possível seria os produtores começarem a plantar com uma quantidade reduzida de fertilizantes, mas aqueles que não tiverem uma reserva de solo rico em nutrientes ou tiverem um solo muito arenoso, enfrentarão perda muito grande na produtividade, o que resulta quebra de safra, ou seja, uma redução significativa na produção que estava prevista.

Fato é que a realidade da guerra já está afetando o agronegócio brasileiro a alternativas para o campo devem ser criadas e incentivadas para evitar prejuízos ou que pequenos produtores saiam da atividade. Trabalhar e investir na incerteza do futuro, da venda da nossa produção, não é uma possibilidade para a maioria dos produtores. A situação é preocupante e estamos todos alertas para saber a melhor hora de se movimentar no mercado.